03 julho 2020

Fidelidade e eficiência na administração

Administrador dos bens de Deus

Gênesis 39:1-6

 

Fidelidade

Dentre os dons que Deus dá ao homem está a riqueza material. Ser rico pode ser uma das bênçãos do céu. Esse dom divino precisa de boa administração. Na verdade, as dádivas materiais vindas do Pai, sejam poucas ou muitas, devem ser administradas com fidelidade e eficiência. Fiel é quem respeita o contrato. É leal. E eficiência é quem produz mais com menos recursos. A bíblia descreve José como bom exemplo de administrador. O que se pode aprender das qualidades administrativas de José do Egito?

Faz bem começar lendo o conselho do Apóstolo Pedro em sua primeira carta (4:10): “Sejam bons administradores dos diferentes dons que receberam de Deus.” A escritora Ellen White, Testemunhos, vol. 3, capítulo 33, versão digital, aplicativo para androide EGW escreveu: “Todo homem é um mordomo de Deus. A cada um confiou o Mestre Seus recursos; mas os homens pretendem que esses recursos são propriedade sua. Diz Cristo: ‘Negociai até que Eu venha’ (Lucas 19:13). ‘Vem o tempo em que Cristo exigirá o Seu com juros.’ (Mateus 25:27). Dirá a cada um de seus mordomos: Presta contas da tua mordomia’ (Lucas 16:2)”. Mordomo é uma palavra de origem latina que significa 'administrador de uma casa'.

Ellen White, Testemunhos Seletos, vol. 2, capítulo 78, versão digital, continua: “Os bens do Senhor devem ser manejados com fidelidade. O Senhor tem confiado aos homens vida, saúde e as faculdades de raciocínio. Tem-lhes dado força física e mental para ser exercida; e não deveriam esses dons ser fiel e diligentemente empregados para a glória do Seu nome? Tem considerado nossos irmãos que precisam prestar contas de todos os talentos colocados em sua posse? Têm eles negociado sabiamente Sua fazenda e sendo inscritos no céu como servos fiéis? Muitos estão gastando o dinheiro de seu Senhor em assim chamados prazeres dissolutos; não estão ganhando experiência em abnegação, mas gastando o dinheiro em vaidades e deixando de levar a cruz de Jesus. Muitos que são privilegiados com preciosas oportunidades, dadas por Deus, têm desperdiçado a vida e agora se acham em sofrimento e necessidade.”

Vejamos algumas qualidades de uma boa administração pela perspectiva da vida do hebreu/egípcio. A primeira característica do bom administrador é a fidelidade. O que é fidelidade nesse contexto? Fidelidade é respeito em cumprir o compromisso assumido, independentemente das consequências. Fidelidade é, também, o zelo com a palavra empenhada. É a decisão firme de manter um acordo. Mais, ainda, é o compromisso pessoal de fazer o que certo, segundo os padrões bíblicos, mesmo que a maioria pense diferente ou seja contra.

José foi fiel à sua consciência diante de condições adversas. Ele levava uma vida muito tranquila e feliz, porque nascera numa família rica. A bíblia relata que suas roupas eram especiais e seu pai lhe favorecia um tratamento diferenciado até os 17 anos de idade, quando sua vida passou por uma reviravolta. Tudo saiu do programado. Os planos foram inesperadamente mudados e ele precisou redirecionar a rota da vida ainda na juventude.

Vendido como escravo pelos próprios irmãos, foi parar na casa de um militar egípcio de alta patente. Mesmo  em situação desvantajosa e vivendo numa terra distante, resolveu manter os princípios aprendidos no lar. A fidelidade é decisão necessária nos momentos desfavoráveis, tais como: ser fiel ao mandamento de Deus quando a maioria despreza, ser fiel no dízimo quando o salário é pequeno, ou decidir retornar à fidelidade em meio às dívidas; ser fiel aos votos matrimoniais diante de proposta tentadora etc. O dom da fidelidade é testado no fogo como os demais, quando a vida oferece momentos de crescimento. O que fazer diante da cobiça, da proposta mais vantajosa em detrimento do compromisso é o passo para frente ou para trás na caminhada da vida.

Por conta de sua postura inicial, o capítulo 39, verso 2, de Gênesis relata que “o Senhor estava com José”; mas José não via a mão de Deus sobre ele. Nós sabemos disso hoje, porque conhecemos o fim da história. É possível que José, bem como alguns de nós, pensou que Deus o abandonara. Só podemos julgar Deus depois de conhecer o fim de todas as histórias. Com exceção de uns poucos privilegiados, Deus não apareceu para ele com promessas de bênçãos em troca de fidelidade. Certamente o rapaz não assistiu a uma palestra de autoajuda ou motivacional na viagem da Palestina para o Egito amarado como se fosse um animal. Porque fidelidade não se compra nem se vende no comércio. É decisão. Postura. Enfrentamento.

A pessoa que decide ser fiel a Deus no dízimo, por exemplo, não pode esperar recompensa. É enganosa a teologia que barganha com Deus. Devolver o dízimo em troca de prosperidade é colocar Deus num balcão de negócios e reduzir o dom da vida e da graça salvadora em mercadoria barata. O sacrifício de Jesus na cruz não tem preço. O sangue do Salvador liberta do pecado, concede vida plena, eterna e feliz. Reconhecer o sacrifício de Cristo é redenção para a alma pecadora. O que um pecador daria a Deus para comprar sua salvação? O que poderia ser maior do que o sacrifício de Jesus na cruz? Constrangido pelo amor de Deus, o pecador decide ser fiel nos dízimos como reconhecimento pelas dádivas recebidas anteriormente das mãos do Criador. Dizimar é um ato de fidelidade, assim como o de ofertar é um ato de gratidão. O dizimista diz para si mesmo: Eu tenho um criador; a Ele me submeto porque é dono de tudo e sou apenas seu administrador; um mordomo de sua casa.

A matemática ensina que após retirar 10% da renda para manutenção da obra de Deus, sobra menos para o administrador. É falaciosa a expectativa de ganho. É preciso administrar o orçamento da família com menos recursos. Daí a necessidade de outras qualidades para administrar bem os 90%.

O verso 5 do capítulo 39 de Gênesis acrescenta que José e tudo que estava em volta dele era abençoado. Há quem consiga ver a mão de Deus em tudo: na longevidade, na saúde da família, nas boas condições de vida, no sol que brilha, na chuva que cai do céu para a lavoura, na empregabilidade constante; em não gastar 30% do salário com medicamentos para controlar pressão arterial, diabetes, problemas cardíacos, doenças autoimunes etc. Por esse prisma, 10% passa a ser valor irrisório. Ainda assim, mesmo diante das bênçãos, o dízimo continua representando um ato de fidelidade e reconhecimento de que há um Deus Criador e mantenedor da vida.

É possível gastar os 90% como quiser? Claro que não. Tudo pertence a Deus. Tudo, 100%. Mas ele permite priorizar os gastos dessa parte. Onde, então, aplicar os 90%? Na obediência aos mandamentos de Deus. É mandamento de Deus cuidar do corpo e da saúde. Dessa forma, é inaceitável comprar com o dinheiro de Deus cigarro, bebidas alcoólicas, alimentos inadequados para o consumo, assinar um canal de pornografia em TV a cabo e por aí vai. Tem que ler a bíblia para conhecer a alimentação ideal. Ellen White, Testemunhos, vol. 9, Capítulo 30, versão digital, afirma: “Cada cristão é um mordomo de Deus, a quem foram confiados os seus bens. Lembrem-se das palavras: ‘Requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel.’”

 

Eficiência

A segunda qualidade importante numa boa administração é a eficiência. Jesus contou a parábola dos talentos. Nela um senhor distribuiu bens de acordo com a capacidade administrativa de cada pessoa. Uns mais, outros menos, a seu critério. Não cabe aqui questionar. Ele é o dono e o patrão, por isso, faz o que bem entender. Conta a bíblia no livro de Mateus (25:21) que “depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e fez um ajuste de contas com eles. Aproximando-se o que tinha recebido cinco talentos, entregou outros cinco dizendo: ‘O senhor me confiou cinco talentos, eis aqui outros cinco que ganhei.’ O senhor disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel; você foi fiel no pouco, sobre o muito o colocarei, venha participar da alegria do seu senhor’”.

A regra básica é que para administrar bem um grande empreendimento será necessário fazer bem feito o pequeno, o que foi designado para se fazer. Na primeira Carta de Paulo a Timóteo (3:12 e 13) exorta para o dever de administrar bem sua própria casa antes da empresa onde trabalha, do próprio negócio ou da casa de Deus. O orçamento doméstico é o primeiro desafio administrativo de qualquer pessoa que tem parcos recursos.

José na adolescência desenvolvia atribuições designadas pelo pai. No verso 14 de Gênesis 37 conta que ele prestava relatórios ao pai das atividades rurais dos irmãos. É importante escrever um planejamento, colocar no papel um orçamento financeiro, estabelecer prioridades. Além de fazer bem feito o trabalho que lhe foi designado, José não compactuava com o erro, ao ponto de ser considerado persona non grata. Daí a necessidade que aprendeu muito cedo administrar conflitos.

Nem sempre é fácil administrar o orçamento doméstico. Às vezes os interesses são antagônicos entre os membros do núcleo familiar. O diálogo ainda é a melhor ferramenta para resolver conflitos. No livro Esperança para a Família, o caminho para um final feliz (Willie e Elaine Oliver, CPB, 2018, SP, pág. 44), escrevendo sobre a intimidade de um casal para tratar dos diversos assuntos conjugais afirmam que “isso é muito mais que nudez física. Em realidade, diz respeito a um relacionamento em que há total transparência emocional, financeira, intelectual e espiritual”. Veja que a intimidade financeira é necessária para o sucesso no orçamento doméstico.

José era um sonhador. "Todo vencedor é de fato um sonhador". Ele vivia contando seus sonhos para a família. Desde cedo já desenvolvia as qualidades de pensar, interagir e compartilhar. Ter uma boa comunicação. Ao contar seus sonhos para os pais e para seus irmãos nem sempre era visto com bons olhos. Nunca desanime os sonhos dos filhos. Incentive para que sejam vencedores.

Portanto, começar administrando bem a pequena atividade que vem às mãos, ter a habilidade de resolver pacificamente os conflitos e acreditar em seus sonhos foram parte do segredo do sucesso de José como bom administrador. “Frutifique onde você está plantado” (Autor desconhecido). Faça bem feito o que vier às suas mãos.

 

De estagiário a administrador júnior. Superando a adversidade.

Administrar com austeridade gera insatisfação. Não demorou muito, já que estava com 17 anos de idade, seus irmãos o venderam como escravo para uma caravana de ismaelitas que por ali passava. Parou no Egito na casa de um funcionário público de alto escalão. O resultado foi que ele cresceu como administrador. À primeira vista não era exatamente isso que se enxergava. Pode ser que o desemprego bata à porta, um acidente, quem sabe uma doença que induz pensar que Deus se esqueceu do sofredor. Deus guia por caminhos inimagináveis. A fé dá força quando tudo parece perdido. A confiança em Deus é como luz diante da escuridão para a alma desesperada.

“Frutifique onde está plantado”. Esta era uma máxima para José. O relato bíblico conta que o general Potifar de nada sabia das faturas domésticas, porque José era um trabalhador que utilizava os recursos com eficiência. Ele não era preguiçoso. Tinha compromisso com seu trabalho. Era pontual e entrega a produção em tempo hábil. O rapaz tinha empatia e cordialidade. Ele acordava cedo e trabalhava duro. Era belo – isso é só para os escolhidos, mas é possível ser um bom administrador feio – ao ponto de despertar os olhares da esposa de seu patrão.

Ellen White, Patriarcas e Profetas, Capítulo 20, José no Egito, diz: “A assinalada prosperidade que acompanhava todas as coisas postas aos cuidados de José, não era resultado de um milagre direto; mas sim a sua operosidade, zelo e energia eram coroados pela bênção divina. José atribuía seu êxito ao favor de Deus, e mesmo seu senhor idólatra aceitava isso como o segredo de sua prosperidade sem-par. Sem um esforço perseverante e bem dirigido jamais poderia, entretanto, haver conseguido o êxito. Deus era glorificado pela fidelidade de Seu servo.”

José era flexível. Percebia que a inovação e o aprendizado contínuo eram condições necessárias para se adaptar aos novos ambientes. Mesmo diante de sua vida correta, o jovem foi parar injustamente na prisão. Naquele tempo não se observavam direito as garantias processuais como ampla defesa e o contraditório. Sua capacidade de superação foi construída com muita paciência. Na cela, cuidava dos presos que com ele estavam. Muito mais do que isso, ele se preocupava com as pessoas.

 

Do sonho à realidade

Para administrar bem a vida, a casa, o trabalho, é possível que alguns passem por desafios. José enfrentou a oposição da própria família nos anos iniciais. Seus irmãos o tratavam asperamente. Ele não respondeu com ódio. O remédio foi a paciência. Depois da oposição veio a tentação com a mulher do chefe, que desviou o percurso da carreira profissional. E nesse momento de sua vida, passa por injustiça: esteve preso por dois longos anos. Simpático com era, fez amizade com um preso a quem pediu ajuda para levar seu caso à Defensoria Pública. Fora da cadeia, o copeiro-chefe, que acabara de passar por uma situação bem delicada no palácio, não quis arriscar seu cargo em comissão para pedir por um preso desconhecido. A ingratidão foi mais um obstáculo a ser vencido pelo jovem empreendedor. Muitos passam pela falta de reconhecimento em seu trabalho. Vingança e ódio não são respostas aceitáveis quando o mundo dá a volta e quem esteve embaixo fica por cima. Nesse momento, prevalecem os valores aprendidos desde a infância. Quais são os valores expostos, quando se está no poder e pode agir com vingança? O que o poder ou a riqueza revelariam sobre a personalidade?

 

De administrador Júnior a Administrador Sênior.

Às vezes é preciso de um milagre para que se dê uma guinada na vida. Se for preciso, Deus fará isso, sim. Deus deu um sonho para Faraó. Dois sonhadores juntos vão longe. Eles se entendem porque falam a mesma linguagem. José é chamado para interpretar o sonho do Presidente da República. Nessas horas, a resposta precisa estar na ponta da língua. Dizem que "sorte é a oportunidade diante de uma pessoa preparada" (autoria desconhecida). Mas ele tinha as mãos calejadas e disposição para o trabalho, e soube identificar o problema e apresentar a solução imediatamente. Foi mais longe, organizou um plano de trabalho em poucos minutos. Estabeleceu metas de curto, médio e longo prazo para 14 anos. O moço tinha visão.

Não deu outra: foi nomeado como assessor no gabinete da presidência. Os anos se passaram. Como bom administrador, sabia ajustar o percurso, reorganizar os prazos, rever resultados e agir com rapidez. Foi assim quando houve desvalorização imobiliária, desemprego, fome, pandemia...

Ellen White, Testemunhos Seletos, capítulo 13, versão digital, Responsabilidade para com Deus, acrescenta: “Deus se desgosta com a maneira negligente, frouxa em que muitos dos que professam ser seu povo dirigem seus negócios mundanos. Parecem ter perdido todo o senso de que a propriedade que estão usando pertence a Deus, e lhe devem prestar contas de sua mordomia. Alguns têm os negócios seculares em total confusão.”

 

 

Qual é o seu sonho?

As crianças são naturalmente sonhadoras. Os adultos perdem a capacidade de sonhar pelo caminho da vida por conta dos sofrimentos, angústias, quiçá uma doença. O pecado, também, tira a capacidade de sonhar. O mais importante é descobrir o sonho de Deus para a vida. Se o sonho é a salvação, deve cultivar a semente dela que o Senhor já plantou no coração. Acreditar nesse sonho é transformador porque muda a maneira de pensar e agir. Que sonho está cultivando?

As mudanças da vida pedem adaptações às novas circunstâncias e elas são contínuas. Faz parte do processo. Quem viveu a mesma coisa nos últimos 10 anos, apenas viveu o mesmo ano 10 vezes. Quem quer resultado diferente na administração da vida, deve ter atitude diferente das anteriores, sem medo de sonhar e enfrentar obstáculos, porque “os obstáculos existem para serem vencidos” e eles aperfeiçoam (autor desconhecido). Levantar a cabeça e lutar é um imperativo. Não murmurar nem contar os problemas para as pessoas. Parte delas não está nem aí para problemas alheios. A outra parte está feliz porque o outro tem problemas (Mário Sérgio Cortella). A pergunta é: onde se quer chegar? Qual o preço que está disposto a pagar?

Fidelidade e eficiência são princípios fundamentais para o sucesso de uma boa administração. O percurso não será fácil, mas valerá à pena a chegada.