27 maio 2010

Meus Pais

Fico feliz ao ver a careca do meu pai e saber que ele não me transferiu essa herança. Olho para meus cabelos e agradeço a Deus todos os dias.
No entanto, meu querido pai imprimiu nos filhos sua personalidade. Ele é “homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desvia do mal”. Meu pai é uma espécie de sacerdote do lar, que vive para zelar por sua família. A ela se dedicou e por ela se sacrificou. O bom disso, é que ele o faz como se fosse a razão de sua vida.
Homem humilde e de parcos recursos, construiu casas e fez delas um lar. Ele é como um Abraão bíblico moderno: por onde passa ergue altares de adoração a Deus. Meu pai educa pelo exemplo.
Como é bom ter um pai assim! Quando vejo seu passado, fico orgulhoso e logo vem um enorme sorriso de felicidade. Eu o amo intensamente e lhe dedico o mais reverente respeito mesclado de honras.
E a minha Rainha? Minha querida mãe. Mulher de poucas palavras e muita ação. Eu a comparo a Maria, mãe de Jesus. Maria, para mim, foi muito maior do que Eva, a primeira mulher. Eva foi uma princesa esculpida pelas mãos do Deus perfeito. Maria foi guerreira. Enfrentou preconceitos, lutou de cabeça erguida, venceu. Maria foi maior do que Eva porque carregou no ventre o Messias.
Minha mãe e Maria, mãe de Jesus, são parecidíssimas. Elas ensinaram seus filhos a ler e escrever. Mesmo com cinco filhos, decidiu continuar os estudos para acompanhá-los nas tarefas escolares. Ela transformava o dever de casa num prazer de casa. Recordo-me das aulas de português em casa, e de como me livrou das garras da professora Áustria na oitava série.
Mulher virtuosa, nunca comeu do pão da preguiça. Estudante exemplar, a casa sempre limpinha, comida gostosa, bolo de puba, cuscuz, tudo muito gostoso… cinco filhos. Não sei como ela conseguiu administrar cinco personalidades diferentes e fazê-los amigos eternos. “Mãe, fulano fez isso”, “mãe, sicrano fez aquilo” … Ela sempre dizia: como nome de mãe é doce! – E é mesmo.
Caligrafia perfeita. Como queria escrever com aquela letra linda! Quando eu tirava nota 5 numa prova que valia 10, feliz dizia: Yes, passei! Vi, certa vez, a perfeccionista reclamar porque tirou nota 8,5 numa prova. Suas notas escolares sempre foram 10, no mínimo 9. Sinto muito, mãe, não deu para te alcançar.
Minha mãe é uma guerreira-santa, imbatível, pois, venceu todas as lutas. A coroa da vida lhe está reservada.
Gata, te amo muito!
Meus pais são para mim um porto seguro. Eles são um estímulo para continuar olhando para frente sem ter medo de perder a referência do passado.

05 maio 2010

A separação entre religião e o Estado

Por volta do século VI a.C., um monarca muito louco, imaginava ser dono do mundo, das pessoas e até da vida delas. Era o momento de ascensão do Império Babilônico, que acumulava riquezas e tinha grande poder militar. Encontramos no livro bíblico do profeta Daniel a descrição exata do que não se deve fazer com a religiosidade das pessoas: religião, política partidária e o Estado devem andar separados sem interferência de um sobre o outro.

O escritor bíblico diz que Nabucodonosor teve um sonho e se esqueceu do que sonhou. Intrigado com isso, o rei convocou os assessores de todas as pastas e externou sua inquietação. O sonho lhe parecia importante. Por isso, determinou que os conselheiros do império dissessem qual teria sido o sonho e, também, a interpretação. Diante da impossibilidade absoluta de atender à exigência imperial, todos temeram pela própria vida. Nabucodonosor baixou decreto de morte para sua assessoria, além de destruição dos bens móveis e confisco dos imóveis.

O profeta Daniel deveria ser morto, assim como todos os servidores públicos do alto escalão. Felizmente, Deus revelou o enigmático sonho a Daniel, quando este suplicava por sua vida e de seus colegas de trabalho. Isso lhe rendeu muito prestígio na corte.

O sonho foi o seguinte: o rei via uma estátua gigantesca feita de quatro metais diferentes: a cabeça era de ouro, o peito feito de prata, o quadril de bronze, as pernas de ferro. Os dedos dos pés eram uma mistura de barro com ferro. Dito isso, veio logo a interpretação: o mundo teria quatro grandes impérios dali para frente, dos quais o Império Babilônico seria o primeiro e mais rico. Daí a razão da cabeça ser de ouro. Ela representava o próprio Nabucodonosor. Depois do Império Babilônico (605 – 539 a.C.) viriam, ainda, outros três: o Império Medo-Persa (539 – 331 a.C.); na sequência o Grego (331 – 168 a.C.) e por fim, o Império Romano (168 a.C. – 476 d.C.).

Empolgado com a revelação Divina, e cheio de si, o imperador deixou a vaidade subir à cabeça. Mandou construir em homenagem própria uma estátua gigantesca nos moldes daquela de seu sonho. Ele desconhecia o limite de seu poder, por isso, baixou um decreto para que todos adorassem a imagem, sob pena de morte.

Na cidade onde o fato se desenrolava, moravam vários judeus que decidiram pela desobediência civil. O governante foi implacável e lançou no fogo os questionadores de sua lei.

O clímax da história aconteceu no momento quando três foram jogados vivos numa fornalha. Mas os rapazes saíram ilesos do fogo. O acontecimento sobrenatural lhes rendeu respeito. Contudo, outros fatos se sucederam a esses para que o arrogante monarca tivesse mais humildade em seus atos de governo.

O profeta Daniel e seus três amigos praticavam um estilo de vida primado pela honestidade, decência, responsabilidade como servidores públicos que eram, tudo sob a inspiração da Divindade que acreditavam.

A religião que esses rapazes professavam teve forte influência na vida de Nabucodonosor. Tempos depois o imperador ficou simpatizante da religião de Daniel e decretou que todos os povos sob seu domínio deviam obediência ao Deus dos hebreus.

O soberano Nabucodonosor não aprendera a lição de casa. Errou de novo. Na primeira vez impôs adoração à imagem de escultura, porque ele se achava deus e a estátua era a representação de si mesmo. Depois, sua ordem foi para prestar culto ao Deus que tinha livrado seus assessores do fogo, instituindo uma religião oficial por meio de uma lei.

Penso que Deus não quer ser adorado pela força ou por obrigação. Mas em liberdade de escolha, sem chantagem, barganha, promessa ou ameaça. Deus não precisa de defensores ou procuradores para fazer valer sua vontade. Os princípios divinos estão aí para a escolha de quem quiser seguir espontaneamente. Nosso Pai Celeste se mostra grandioso ao criar seres dotados de liberdade de escolha. Ele aponta o caminho e nos adverte das consequências de nossas decisões. Mesmo que sua criatura o negue, Ele respeita a liberdade de cada ser.

Quase três milênios se passaram depois desses tristes episódios. Há quem não acredita que tais fatos realmente aconteceram. Isso não importa. O significado disso tudo é que há, no nosso século, homens loucos como aqueles que os livros antigos registraram. Nabucodonosor cometeu atrocidades para fazer valer seu ponto de vista a qualquer custo. O Livro Sagrado nos conta que ele escravizava prisioneiros de guerra; arrancava os olhos dos vencidos em batalha; jogava pessoas no fogo e destruía cidades sem piedade.

Que os insanos do presente século não cometam atrocidades em nome de uma consciência coletiva do bem comum, da maioria, e até mesmo, em nome Deus, qualquer que seja o deus. Religião e Estado não combinam, por isso, devem andar separados. O certo é que cada um pudesse professar sua religiosidade sem violar a do outro. Porque a liberdade religiosa do outro é tão importante quanto a minha. Liberdade religiosa é defender o direito fundamental do outro de escolher no que crer, mudar sua crença, ou de não crer, segundo os ditames da própria consciência.