29 junho 2021

Dízimo e Fé


Dizimar é um ato de fé

Hebreus 11:1 / Malaquias 3:10

Entregar o controle da vida ao livre arbítrio de Deus abrindo mão de projetos pessoais é uma atitude de fé, ainda que diante de situações sem a clareza da racionalidade

A jornada da salvação poderia ser comparada a uma estrada que vai se afunilando quanto mais se aproxima de seu fim. No percurso, vão-se abandonando coisas superficiais para confiar o controle da vida nas mãos de Deus num ato de fé. Segundo o escritor da Carta aos Hebreus, fé é certeza, firme convicção, entrega absoluta de tudo para o Senhor.

Confiar as aspirações aos ditames de Deus é um desafio para os gigantes da fé, considerando que Deus não fala pessoalmente com os humanos, e o guia da fé é a bíblia que foi escrita há 3.500 anos. Dando importância à advertência bíblica de que “fé sem obra é morta”, o dízimo poderá ser a materialização de confiança total no Senhor. Essa fé é dom de Deus. Ela é como uma semente lançada pelo Semeador no solo do coração humano, que regada com oração, leitura da bíblica e obediência, crescerá para produzir muitos frutos.

Todos fazem planos para o futuro e querem ter o domínio sobre eles. Por isso, busca-se prever o maior número de possibilidades visando ao melhor custo-benefício nesta curta passagem de tempo. Restituir o controle da vida ao livre arbítrio de Deus significa abrir mão de planos, ambições, desejos íntimos, sejam eles legítimos ou não, para conhecer o propósito do Senhor da vida.

Contudo, essa fé parece antagônica num cenário de razão e liberdade. Renunciar às ambições sugere que, a partir de então, o projeto de Deus é mais importante do que o sonho individual. Em princípio, a questão determinante para quem pretende tomar tal decisão é saber qual seria, exatamente, o plano de Deus para a vida; levando em conta que o Divino raramente se manifesta de maneira visível. Felizmente, o Espírito Santo foi designado para estabelecer conexão da Terra com o Céu, além de alertar quanto ao pecado de cada um, a justiça de Deus e o juízo final.

Claro que existem seres humanos privilegiados que foram abençoados, de alguma maneira, da direção a seguir, pelo menos, nos grandes temas da vida. Veja, por exemplo, o caso de Abrão quando recebeu a orientação para sair de casa e ir a uma terra que nem sabia qual era. Quando uma bênção desse tipo acontece com alguém, pode acreditar que é um ser humano felizardo! Então, é só obedecer e seguir em frente. Obviamente, sem a garantia de que tudo serão flores. Abrão, por exemplo, andou mais de mil quilômetros com sua família e muitos animais, que precisavam de comida e água diariamente. Na verdade, ele peregrinou durante 100 anos de sua vida por terras áridas.

A oração e a leitura da bíblia favorecem momentos de intimidade com o Céu, reforma de vida e o conhecimento dos princípios básicos da vida como justiça e amor

Entretanto, conversar com Deus, como Abrão o fez, é o sonho da maioria. A realidade dos mortais é outra. Por conta disso, o primeiro passo para estabelecer comunicação com o Céu seria buscar na oração a orientação divina da direção a seguir. “A oração é o abrir do coração a Deus como a um amigo” (Ellen White, Caminho a Cristo, pág. 93, Ed. CPC). Vale destacar que uma vida de oração é comparada a um relacionamento de intimidade como se tem com alguém. Duas pessoas se conhecem pela proximidade e compartilhamento de suas confidências. Orar é separar tempo diário para dialogar com Cristo acerca dos desafios da vida, bem como as alegrias e tristezas.

Em segundo lugar, a leitura diária da bíblica é mandamento obrigatório. Ela deveria ser o livro de cabeceira. É pela leitura da bíblia que se inicia a caminhada rumo à Canaã como fez o pai da fé. Ao se deparar com os ensinamentos bíblicos, algumas condutas, possivelmente, mudarão no convívio familiar, no trabalho, ou nos negócios. Cada pessoa, supostamente, faria um inventário de seu passado e veria no balanço dos atos praticados que certas atitudes careceriam de mudança. Outras precisariam de reforço, e quem sabe seria um bom momento para fazer uma faxina das ações nocivas.

A priori, o juízo das ações prejudiciais é possível utilizando a bíblia como parâmetro, tanto no âmbito particular, quanto diante do semelhante. Por meio dela, consegue-se identificar, basicamente, a vontade de Deus para a pessoa e para a sociedade na qual ela está inserida; pelo menos, referente aos princípios elementares como amor, justiça, verdade, misericórdia, perdão etc. Questões básicas podem ser levantadas no dia a dia, tais como: se Deus estivesse aqui ao lado, como seriam os pensamentos? De que maneira se falaria determinado assunto? De que modo agiria? Essas perguntas direcionam para o velho conceito de temer a Deus. Dito de outra maneira, temer a Deus é saber o que Ele aprova, ou o que reprova, promovendo adequações do querer humano com a ordem divino. Na ausência da voz audível de Deus, a bíblia é o único porto seguro no qual posso conhecer a vontade do Pai. O texto sagrado foi o guia para o povo hebreu da era patriarcal e, igualmente, para os primeiros cristãos do tempo apostólico. É desafiador ter uma vida de fé em nossos dias. Todavia, é confortador saber que a fé é dom gratuito de Deus.

O Antigo e o Novo Testamentos são o porto seguro para a fé. Jesus Cristo acreditava nos fatos narrados no Antigo Testamento. É pela leitura da bíblia que se conhece o conceito de pecado

O que seria, então, a fé em nossos dias? Diz a bíblia que fé é dom de Deus (Efésios 2:8). Fé é acreditar na bíblia como sendo a palavra de Deus por revelação do Espírito Santo. A bíblia nasceu silenciosamente com propósito divino, sem o alerde para justificar a grandiosidade de seu Autor. Textos daqui e dali escritos por doutores e analfabetos foram inspirados e juntados de tempos em tempos para criar o quebra cabeça do Antigo Testamento, montado apenas pelo Espírito Santo do Altíssimo.

Nos dias de Jesus Cristo o cânon do Antigo Testamento de 66 livros já estava pronto. Ele deu credibilidade aos fatos nele narrados, tais como a criação literal em seis dias das plantas, dos animais e de Adão e Eva. Observe que Cristo acreditava em Adão e Eva, na destruição da cidade de Sodoma, no dilúvio universal, na história de Jonas, dentre outros assuntos narrados no texto sagrado, sobre os quais Ele fez referência. No que se refere ao Novo Testamento, quem diria que algumas cartas e poucos ensinamentos de Cristo, contados pelos Apóstolos, constituiriam na regra de fé, prática e esperança de milhões de pessoas das mais variadas nacionalidades, ao longo dos séculos, como que peregrinando para o lar celeste!

Via de regra, Deus não fala pessoalmente com a maioria dos mortais. Todavia, o fiel crê na bíblia como sendo a palavra do Senhor. Ultimamente, ela anda meio desacreditada. No passado, fora desprezada pela maioria. Por ‘um tempo, dois tempos e metade de um tempo’ esteve apagada (Daniel 7:25). Renasceu, e hoje reclama sua credibilidade diante da relativização de tudo. Em relação os ataques do momento está a ‘atualização’ interpretativa de seu suposto arcaico conteúdo, como defende a teologia liberalista. Os que defendem essa tese argumentam que vivemos numa sociedade tecnológica e que os patriarcas bíblicos eram de um período ‘pré-histórico’. No entanto, aqueles que relativizam a bíblia se esquecem que os pecados de todos são os mesmos desde que gente é gente, tanto no passado quanto no presente. É pela leitura da bíblia que conhecemos o conceito de pecado. A voz da consciência guiada pelos sussurros dos Espírito Santo denuncia o pecado objetivando mudança de direção: sair das trevas espirituais para a luz.

A leitura da bíblia desperta no cristão o senso de missão para abençoar outras pessoas financiando a pregação do evangelho

É, também, pelo estudo da bíblia que se desperta no crente o senso de missão. Pessoas são transformadas, não apenas pela leitura dela, antes de tudo, pelo poder do Espírito Santo que as capacita para levar as mesmas vitórias ao semelhante. Algumas pessoas o fazem com esforço próprio, outras com seus recursos e intelecto. Vem de Deus os diversos dons, inclusive o de financiar a pregação do Evangelho.

Fazer a vontade de Deus pode significar o financiamento da pregação do Evangelho com os dízimos e as ofertas frutos do trabalho pessoal. O dizimista tem o temor de Deus, porque participa com seus recursos da obra do Senhor. A devolução do dízimo ao Criador tem a capacidade de transformar a ambição egoísta em ato altruísta.

A devolução do dízimo é uma bênção e um desafio

Devolver a Deus o dízimo é um excelente remédio para um tipo de câncer da alma. A riqueza material poderá ser uma dádiva de Deus se usada sob orientação celeste. Quem sabe alguns ricos precisem de fé para vencer a confiança própria e entregarem o controle de tudo nas mãos de Deus!

Fé, sob a ótica do dizimista, é acreditar que Deus está olhando para cada um e perceber que Ele pode identificar as necessidades do indivíduo no meio de bilhões de iguais. Essa atitude de fé requer vigilância constante porquanto tem alguém trabalhando contra. Diz o texto bíblico que se possível um inimigo enganaria até os escolhidos (Mateus 24:24). É pela fé que são vencidas as investidas daquele que busca afastar de Deus o fiel dizimista.

Foi assim que Jesus Cristo saiu vitorioso sobre as tentações do inimigo. Disse o Mestre a respeito da fé: não se preocupe com o dia de amanhã (Mateus 6:25). Em outras palavras, é o mesmo que dizer para se libertar da ansiedade por causa dos recursos minguados, ou do estresse da bolsa de valores. Se a luta de um rico pode estar em vencer a ambição e em transferir o comando de tudo, a dificuldade do pobre é superar a escassez. Certamente, viver com poucos recursos no orçamento é tarefa de um bom planejador financeiro. Claro que, tirando a parte do dízimo do orçamento fica muito mais desafiador administrar o salário. Alguns ricos, e certos pobres, contudo, deixam passar despercebidos que a vida é superior à ambição ou à dificuldade, e que o Criador tem amor infinito para cada ser humano. A vida cristã não promete facilidades. Pelo contrário, “aqui no mundo vocês terão aflições, mas animem-se, pois eu venci o mundo”, disse Jesus (João 16:33). Não obstante, há uma promessa no Salmo 37:25: “Já fui moço; agora sou velho, mas nunca vi o justo ser abandonado pelo Senhor, nem seus filhos mendigar o pão”.

Devolver o dízimo, mesmo diante de circunstâncias adversas, é um ato de fé. É amar o próximo ao ponto de financiar a salvação dele. É acreditar que os recursos do orçamento não serão gastos com tratamentos ou medicamentos caros, porque Deus abrirá as janelas dos céus, trará saúde sem medida e paz de espírito. É a cura da alma.

O dizimista anda na presença de Deus

Há mais razões para dizimar. O ato só faz sentido para alguém que anda na presença de Deus. É demonstração de fidelidade e obediência aos mandamentos do Senhor. Dizimar é sinônimo de fidelidade, assim como ofertar é sinônimo de gratidão. Para ficar somente na questão da fidelidade, porque fidelidade é uma escolha que implica em eventual perda, o dízimo é ato de parceria com o céu.

Se o adorador devolver a parte de Deus em forma de dízimo, mas lhe negar as outras áreas da vida, soará mercantilismo, porque Deus espera que tudo seja consagrado. Dez por cento é pouco. Numa linguagem mais moderna: 10% “é para os fracos”. A entrega é total. Entregar uma parte e ficar com outra, é negociar com Deus uma troca de favores.

Por essa razão, dos 90% que ficam na administração do dizimista, somente poderão ser utilizados naquilo que for aprovado pelo dono de tudo: O Criador. Nessa direção, com a parte dos 90% é proibido comprar alimentos que destroem o corpo, que é o templo do Espírito Santo. Fazer a vontade de Deus tem sentido de dizer que o modo de vestir, o que comer, com que se divertir, onde investir as finanças, tudo isso deve estar sob a aprovação do Soberano do universo.

O dízimo não é uma apólice de seguro

De fato, é entregar o controle nas mãos do Senhor e deixar que Ele decida o que fazer com a vida e com os bens. Veja que no passado alguns fiéis foram decapitados, outros queimados ainda vivos, enforcados, serrados ao meio, vendidos como escravos, devorados por leões. A difícil tarefa é deixar que Deus decida sem questionar o aparente resultado negativo advindo da fidelidade. Jesus Cristo advertira que os fiéis passariam por aflições. Nesse sentido, é uma falácia a proposta da teologia da prosperidade que promete vitórias sucessivas. Enquanto o Evangelho previne das dificuldades em servir a Deus, a teologia da prosperidade promete o paraíso.

Inegavelmente, existiram no passado, como nos dias de hoje, homens e mulheres afortunados de vida mansa em terra que mana leite e mel tão fiéis quanto os mártires. Devolver a Deus o dízimo está longe de ser a garantia de sucesso, saúde, ou vida longa. Quem decide no que diz respeito aos rumos da vida é Deus e não o dizimista. O dízimo representa um pacto de fidelidade sem a certeza de recompensa nesta vida. Justamente, por essa razão simboliza um ato de fé. Portanto, antes de devolver o dízimo a Deus, esteja certo de que sua vida jamais será a mesma.