20 julho 2020

Testemunha ou Advogado

Jesus Cristo quando esteve conosco fez muitos milagres, provocou a racionalidade de algumas pessoas, emocionou outras, deixou ensinamentos, esclareceu conceitos sobre justiça, verdade, amor e pediu depois que seus discípulos fossem testemunhas desses milagres e ensinos.

Testemunhar de Cristo é contar do bem que Ele fez na vida da pessoa convertida. É compartilhar a cura, a graça, a misericórdia, o perdão de Deus concedidos no passado, no presente e sobre os planos divinos para o futuro. Testemunhar é, também, uma oportunidade que Deus oferece para as pessoas; sobretudo, um privilégio de poder cooperar com Ele no resgate da ‘ovelha perdida’. Significa dizer que a pessoa conhece Jesus Cristo ‘pessoalmente’, porque passa tempo com Ele.

Uma coisa é dizer o que Jesus fez na vida de alguém. Outra coisa bem diferente e mais impactante é quando o próprio beneficiário do milagre conta sua experiência. Seria bom que não tivéssemos certas histórias para contar. Porém, o milagre de Deus alcança pessoas inimagináveis como o Apóstolo Paulo numa estrada indo para a cidade de Damasco quando tinha a intenção de perseguir os cristãos. Foi um momento sobrenatural. Nem sempre Deus age de maneira dramática. É mais comum ver nas pessoas um senso de reconhecimento da graça do Pai, compreensão de seu imenso amor e gratidão pelo perdão dos pecados.

Na igreja primitiva do tempo dos Apóstolos, cada membro tinha sua própria história para contar. Os irmãos Tiago e João tiveram o temperamento explosivo transformado pelo amor. Pedro, de rude pescador, passou a ser um grande orador e líder da igreja. Tomé contava que de cético adquiriu fé. O perseguidor Paulo de Tarso falava sempre do diálogo que teve com Cristo na estrada de Damasco. Assim, a testemunha só pode falar do que viu, ouviu, conheceu ou experimentou.

Certa vez Jesus foi a uma região chamada de Decápolis às margens do Mar da Galileia e ao descer do barco deu de cara com uma pessoa que se cortava, era agressiva, vivia andando nas madrugadas em cemitérios; estava presa espiritualmente. Era uma figura bem conhecida na cidade. No encontro com Jesus, o moço teve sua vida transformada, da mesma maneira que Paulo. Depois de sua restauração física, emocional e espiritualmente, o rapaz pediu para seguir Jesus Cristo. Contudo, o Mestre disse para ele voltar para casa com o objetivo de testemunhar sobre o milagre em sua vida. Era a pessoa mais indicada a falar do amor libertador do Pai Celeste. O Apóstolo Paulo e esse rapaz da terra dos gerasenos tinham as próprias histórias para contar.

Ellen White escreveu: “Deus poderia ter realizado seu plano de salvar pecadores sem o nosso auxílio; mas, para desenvolvermos caráter semelhante ao de Cristo, precisamos partilhar de sua obra” (O Desejado de todas as nações, página 142, Ed. CPB). Cristo disse à mulher samaritana no poço de Jacó, que testemunhar é fruição de água viva do interior. É um modo de cooperar nos planos de Deus. O testemunho pessoal favorece o crescimento, coloca o pecador em contato com o coração de Deus numa resposta de obediência ao Salvador; além de ser um ato de amor pelo semelhante.

Por essa razão, testemunhar não pode ser o ato de convencer uma pessoa das doutrinas da igreja. Deus não precisa de advogados. O testemunho mais eficaz é uma vida transformada. Para isso, não carece ser uma pessoa com formação acadêmica ou eloquência, mas quem experimentou do amor de Deus na própria vida; sem com isso, desprezar a utilidade daqueles dons se bem empregados.

Diariamente, Deus oferece oportunidades de compartilhar sobre o amor, a misericórdia, a paciência e o perdão recebidos Dele. Com esse mesmo sentimento no coração, é preciso olhar para as pessoas com as lentes do céu, sem importar quem elas são, mas quem poderão ser com Cristo. Nas palavras de Ellen White, “Ninguém caiu tão fundo, nem é tão mau, que não possa encontrar libertação em Cristo” (O Desejado de todas as nações, página 258, CPB).

É função da testemunha levar as pessoas a Cristo. Nos muitos milagres realizados por Jesus foram os amigos e parentes que levaram o necessitado para que fosse curado, tal qual aconteceu na passagem do Evangelho de Lucas 5:19, quando quatro amigos desceram uma maca pelo telhado de uma casa para Jesus curar um paralítico. Isso foi reputado como ato de fé dos amigos do paralítico.

A primeira pessoa com quem André, o discípulo de Cristo, compartilhou as boas-novas foi seu irmão Pedro. O testemunho mais importante que alguém poderá dar é a amizade, carinho, amor, compreensão, respeito por seus parentes, justamente, as pessoas mais próximas com quem convive no dia a dia. Se o relacionamento com o cônjuge, com os filhos ou com os pais era meio azedo, o melhor testemunho em favor de Cristo é desenvolver relacionamentos saudáveis na família. Cada pessoa é uma propaganda viva do Evangelho. Um outdoor ambulante. É em casa que de fato nos revelamos.

Obviamente, é sempre desafiador lidar com pessoas difíceis. O olhar para elas deverá mirar no potencial de cada uma, nas qualidades, no que elas poderão vir a ser, desfocando dos problemas, porque “Deus não nos fez perfeitos e não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos” (Albert Einstein).

(Baseado na Lição da Escola Sabatina do terceiro trimestre de 2020: Fazendo amigos para Deus, a alegria de participar de sua missão, Ed. CPB).


15 julho 2020

Sociedade fabiana

Fábio Máximo (Quintus Fabius Maximus Verrucosus – 275 – 203 a.C.) foi cônsul romano por cinco vezes quando dois cônsules compartilhavam a administração do Estado e duas vezes ditador no período da República entre os anos 233 a 209 a.C. Ficou conhecido por sua tática prolongada de guerra contra Aníbal de Cartago no norte da África, especialmente na segunda guerra púnica.

Em referência ao método de guerra do cônsul romano, foi criada em Londres no dia 4 de janeiro de 1884 a sociedade fabiana, movimento político socialista que entendia a tomada do poder pelos trabalhadores de forma gradual, infiltrando nas instituições, propondo dominação do pensamento coletivo como estratégia diferente dos marxistas que queriam o poder de forma revolucionária, assim como aconteceu na Rússia, China e outros países.

Inspirados na tática de fazer guerra de Fábio Máximo alguns filósofos, cientistas políticos, economistas, físicos, dramaturgos como H. G. Wells, Emmeline Punkhurst, Leonard Woolf, George Bernard Shaw, Annie Wood Besant, Bertrand Arthur William Russell, Salama Moussa, Harold Laski, Edward Carpenter, Oliver Joseph Lodge, Richard Henry Tawney, Jawaharlal Nehru, Georg Douglas Howard Cole dentre outros, fundaram o Partido Trabalhista em 1906 no Reino Unido, e alguns desses nomes foram expoentes do movimento socialista fabiano ao longo do século XX.

O ardil socialismo fabiano foi explicado por Maria Antonieta Macciochi, feminista italiana dos anos 70, em seu livro A favor de Gramsci, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976, p.151: “Esse sistema ideológico envolve o cidadão por todos os lados, integra-o desde a infância no universo escolar e mais tarde no da igreja, do exército, da cultura, das diversões, e inclusive do sindicato, e assim até a morte, sem a menor trégua; essa prisão de mil janelas simboliza o reino de uma hegemonia, cuja força reside menos da coerção do que no fato de que suas grades são tanto mais eficazes quanto menos visíveis se tornam.” Sim, grades eficazes quanto menos visíveis forem. No caso brasileiro, essa doutrina está impregnada como nódoa no tecido social que levará anos para limpar a mancha nefasta das instituições públicas, universidades, sindicatos, igrejas, partidos políticos, escolas primárias, dentre outras organizações sociais.

A agenda socialista fabiana está mais forte do que no passado. O mote socialista deixou de ser a luta de classes ou o que chama de capitalismo selvagem para erguer a bandeira da ecologia. O discurso ecológico é simpático, unificador e encontra apoio em todas as classes sociais, culturas e religiões. Pascal Bernardin, jornalista e engenheiro francês, denuncia no livro ‘O Império Ecológico ou a subversão da ecologia pelo globalismo’ (Vide Editorial, páginas de 10 a 12), que tem crescido um discurso ecológico totalitário, mascarado que monopoliza a mídia. O escritor fala de uma ideologia unificadora das religiões e de um governo mundial.

O Papa Francisco é o grande defensor do “ecumenismo ecológico”. Nos últimos anos o líder religioso tem se dedicado, basicamente a dois temas: Ecologia e ecumenismo. Na verdade, propõe a união das religiões para cuidar do planeta. Exemplo disse é a chamada “economia de Francisco” revelada no Sínodo da Amazônia e na Carta Encíclica Laudato si. Na Carta papal o líder católico defende o domingo como dia de descanso para a humanidade cuidar do planeta, da família e dia especial de culto religioso.

O Instituto Humanista Unisinos, entidade Católica Jesuíta, publicou no site ihu.unissinos.br no dia 20 de abril de 2020 artigo intitulado “A comunhão com nossa irmã-mãe terra vai ter que ressuscitar após esta pandemia” (pandemia de covid-19 de 2020). Num discurso religioso diz: “Como Noé, hoje somos chamados a assumir uma opção essencial para o cuidado da casa comum …” O artigo continua dizendo que esta sociedade de consumo, desperdício e desigualdades está indo para o fim.

No dia 12 de março de 2018 o site vaticannews.va publicou a notícia: “Hebreus, cristãos e muçulmanos juntos para salvar o planeta”, referindo-se ao Congresso Notre Dame de Jerusalém cujo objetivo era apresentar a Carta Laudato si. No Congresso, destacaram-se trechos da Carta para enfatizar que a Terra “clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável”. Obviamente, a ação humana está poluindo rios e o ar, desmatando, alterando fauna e flora.

O ECO ecológico encontra replicadores no meio evangélico/protestante por ser o discurso da moda. E parece que ninguém quer ficar de fora da onda. No programa ‘Vejam só’ da RIT TV exibido no dia 10 de janeiro de 2020, o entrevistado Reverendo Ageu Cirilo de Magalhães Júnior, diretor do Seminário Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição, defende a ideia de que a pandemia de COVID-19 é a “mão de Deus sobre a terra”. Na mesma linha de pensamento de salvar o planeta, o teólogo exorta que devemos nos aproximar mais de Deus, especialmente dedicando o domingo como dia para cuidar das questões religiosas, porque, segundo suas palavras, o dia de domingo é o “mandamento esquecido”. Católicos e protestantes estão mais próximos do que nunca. Além do cuidado da "casa comum", dois pontos doutrinários importantes são compartilhados: o domingo, como dia de descanso, e a crença na imortalidade da alma.

O ex-frei Leonardo Boff, outrora silenciado pelo Papa antissocialista João Paulo II, encontrou apoio no Papa socialista Francisco. O Frei publicou texto com o título “A transição ecológica para uma sociedade biocentrada”, no site franciscanos.org.br, em 23/06/2020, no qual afirma que o coronavírus, arma letal de ‘Gaia’, “…expressa a lógica do capitalismo global que, há séculos, conduz uma guerra sistemática contra a natureza e contra a Terra.” E acrescenta que “a ONU reconheceu a Terra como Mãe Terra e a natureza como titulares de direitos. Isso implica que a democracia deverá incorporar como novos cidadãos, as florestas, as montanhas, os rios, as paisagens. A democracia seria socio-ecológica (sic).”

Aqui e acolá poucas vozes destoantes soam no seio católico como Dom José Luis Azcona Hermoso, Bispo Católico Emérito da Prelazia do Marajó (PA), que faz crítica ao Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia por fugir do propósito de um sínodo ao deixar de fazer menção a Cristo crucificado e ressuscitado, segundo suas palavras em homilia, para um discurso político, e por elevar o indígena da Amazônia à perfeição, mesmo sendo humano e pecador como todos (YouTube, Apostolado Petrino, Homilia de Dom Azcona, em 18/10/2019).

De fato, a quarentena no período da pandemia de COVID-19 no primeiro semestre de 2020 favoreceu mudanças pontuais que foram observadas em rios que ficaram mais limpos, além de diminuição de lançamento de dióxido de carbono na atmosfera em cidades muito populosas. Esses bons exemplos de restauração da natureza unem religiosos de todo mundo, ateus e socialista marxistas ou fabianos sob a mesma bandeira e liderança do Papa Francisco.

Vem ganhando força o discurso de parar tudo aos domingos para que a Terra possa descansar. As catástrofes naturais e as pandemias de ebola, covid-19, H1N1, Zica Vírus, Chicungunha, Gripe Suína, Gripe Aviária, SARS e outras doenças podem favorecer o surgimento de ditadores com discurso de proteção da vida com a finalidade de controlar a população e os meios de comunicação. Certamente, imporão normas de comportamento e domínio social, dentre elas a imposição de descanso no domingo para cuidar do planeta, da família e para celebração religiosa. Ocorre que a liberdade é tão importante quanto a vida. É inadmissível perder a liberdade para proteger a vida.

Os livros históricos registram que o primeiro dia da semana era venerado pelos romanos como dia de adoração ao sol. No dia 7 de março de 321 d. C., o imperador Constantino promulgou decreto fazendo do domingo um dia de festividade pública: “Que no venerável dia do sol os magistrados e as pessoas residentes nas cidades descansem, e que todas as oficinas estejam fechadas. No campo ainda que as pessoas ocupadas na agricultura possam livremente continuar seus afazeres pois pode acontecer que qualquer outro dia não seja apto para a plantação de vinhas ou de sementes” (Christian Classics Ethereal Library, Canon 29 of Council of Laodicea). Esse foi a passo mais importante para o esquecimento e substituição do sábado da Lei de Deus pelo domingo. É oportuno dizer que está escrito no texto do quarto mandamento do decálogo de Deus “lembra-te do dia de sábado para o santificar” (Êxodo 20:8-11). Deus sabia que a humanidade iria esquecê-lo, por isso começou sua redação com a palavra “lembra-te”.

As condições são favoráveis. O discurso está pronto. Só falta implementação do domingo como dia de guarda/descanso. A Constituição Federal brasileira assegura no artigo 7º, inciso XV, que são direitos dos trabalhadores “repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos”. No catecismo, o sábado da Lei de Deus foi mudado pelo domingo por determinação da Igreja Católica em lembrança da ressurreição de Jesus no primeiro dia da semana. Na Carta Encíclica Dies Domini do Papa João Paulo II, o ‘Pontífice explica com clareza porque, por exemplo, a Igreja Católica Romana substituiu o sábado pelo domingo. Convenientemente, os primeiros protestantes foram na mesma linha dos Católicos. Esqueceram o que era para ser lembrado. O livro de Êxodo (20:8-11) expressa de forma cristalina os motivos da obediência ao preceito sabático. Somos indesculpáveis quando buscamos razão para a desobediência da ordem de Deus alegando abolição do decálogo pela morte de Cristo na cruz. O curioso é que o alvo da abolição só alcançou o quarto mandamento. Todos os nove mandamentos do decálogo são aceitáveis, menos o sábado, segundo dizem aqueles que advogam a tese da comodidade’ (extraído do texto O Espírito Santo e o selo de Deus no livro do Apocalipse, publicado neste blog em 22/06/2020).

O Papa João Paulo II depois de fazer uma explanação das razões e importância do sábado na lei mosaica, defende a tese de que a morte e ressurreição de Cristo proporcionou um descanso e recriação da humanidade tal qual o sábado faz referência à criação inicial do relato de Gênesis 1. A seguir, destacam-se trechos do documento “O dia do Senhor – Carta Apostólica Dies Domini, do Sumo Pontífice João Paulo II ao episcopado, ao clero e aos fiéis da Igreja Católica sobre a santificação do domingo”. No capítulo de título “O Shabbat: o repouso jubiloso do Criador", o Papa João Paulo II, de forma poética, dá as razões do porquê o sábado deve ser lembrado: “O repouso divino do sétimo dia não alude a um Deus inactivo (sic), mas sublinha a plenitude do que fora realizado, como que a exprimir a paragem de Deus diante da obra ‘muito boa’ (Gn 1,31) saída das mãos, para lançar sobre ela um olhar repleto de jubilosa complacência: um olhar ‘contemplativo’, que não visa novas realizações, mas sobretudo apreciar a beleza do quanto foi feito; um olhar lançado sobre todas as coisas, mas especialmente sobre o homem, ponto culminante da criação. É um olhar no qual já se pode, de certa forma, intuir a dinâmica ‘esponsal’ da relação que Deus quer estabelecer com a criatura feita à sua imagem, chamando-a a comprometer num pacto de amor.” Diz o pontífice que o sábado é uma aliança de amor entre Deus e o homem como num casamento, é um ato tanto da criação, quanto da libertação de “Israel da escravidão do Egito (cf. Dt 5,12-15)”.

No subtítulo “Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o (Gn 2,3)”, a Carta expressa: “O preceito do sábado… não está situado junto das normativas puramente culturais, como é o caso de tantos outros preceitos, mas dentro do Decálogo, as ‘dez palavras’ que delineiam os próprios pilares da vida moral, inscrita universalmente no coração do homem. Concebendo este mandamento no horizonte das estruturas fundamentais da ética, Israel e, depois, a Igreja mostram que não o consideram uma simples norma de disciplina religiosa comunitária, mas uma expressão qualificante e imprescindível da relação com Deus, anunciada e proposta pela revelação bíblica. Se possui também uma convergência natural com a necessidade humana de repouso é, contudo, à fé que é preciso fazer apelo para captar o seu sentido profundo, evitando o risco de banalizá-lo e traí-lo. Portanto, o dia do repouso é tal primariamente porque é o dia ‘abençoado’ por Deus e por Ele ‘santificado’, isto é, separado dos demais dias para ser, de entre todos, o ‘dia do Senhor’”.

Em outro subtítulo da Encíclica “Recordar para Santificar”, acrescenta: “O mandamento do Decálogo, pelo qual Deus impõe a observância do sábado, tem, no livro do êxodo, uma formulação característica: ‘Recorda-te do dia de sábado, para o santificares’ (20,8). E mais adiante, o texto inspirado dá a razão disse mesmo, apelando-se à obra de Deus: ‘Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto contém, e descansou no sétimo; por isso o Senhor abençoou o dia de sábado e santificou’ (v. 11). Antes de impor qualquer coisa a ser praticada, o mandamento indica algo a recordar. Convida a avivar a memória daquela grande e fundamental obra de Deus que é a criação. É uma memória que deve assumir toda a vida religiosa do homem, para depois confluir no dia em que ele é chamado a repousar. O repouso assume, assim, um típico valor sagrado: o fiel é convidado a repousar não só como Deus repousou, mas a repousar no Senhor, devolvendo-Lhe toda a criação, no louvor, na acção (sic) de graças, na intimidade filial e na amizade esponsal.”

Logo depois do discurso como se fosse uma defesa do repouso sabático, a Carta Encíclica no subtítulo “Passagem do sábado ao domingo” expressa a causa da mudança ao dizer que “Cristo constitui a revelação plena do mistério das origens, o cume da história da salvação e a antecipação do cumprimento escatológico do mundo. Aquilo que Deus realizou na criação e o que fez pelo seu povo no êxodo, encontrou na morte e ressurreição de Cristo o seu cumprimento, embora este tenha a sua expressão definitiva apenas na parusia, com a vinda gloriosa de Cristo.” Mais adiante cita frase de S. Gregório Magno: “Nós consideramos verdadeiro sábado a pessoa de nosso redentor, nosso Senhor Jesus Cristo”. Por fim, conclui sobre a mudança do sábado para o domingo nestas palavras: “À luz deste mistério, o sentido do preceito vetero testamentário do dia do Senhor é recuperado, integrado e plenamente revelado na glória que brilha na face de Cristo Ressuscitado (cf. 2 Cor. 4,6). Do ‘sábado’ passa-se ao ‘primeiro dia depois do sábado’, do sétimo passa-se ao primeiro dia: o dies Domini torna-se o dies Christi!” Portanto, para os Católicos Romanos a ressurreição de Jesus Cristo é a razão da mudança do sábado para o domingo como dia santo, conforme defendeu o Papa João Paulo II na Carta Encíclica Dies Domini.

Quando Jesus Cristo veio a este mundo encontrou 'uma igreja' pregando tradições humanas. A leitura do texto profético era secundária. Hoje estamos vivendo na mesma situação: na defesa das tradições humanas. Disse Jesus: “A adoração deste povo é inútil, pois eles ensinam leis humanas como se fossem meus mandamentos” (Mateus 15:9).

Há uma correta preocupação por zelar pelo planeta. Todavia, pessoas passam fome, outras são refugiadas de guerras insanas, há trabalho escravo e exploração de crianças. Queremos cuidar do planeta e esquecemos de cuidar das pessoas. Uma atitude não pode excluir a outra. As pessoas precisam de solidariedade, amor, respeito, alimento. Se deixar o planeta sozinho sem intervenção negativa do homem ele se restaura em poucas centenas de anos.

O discurso ecológico foi facilmente comprado pelos humanos que não desconfiaram que ele vem de ordem superior do mundo dos espíritos. Forças espirituais estão dando as cartas. Como escreveu o Apóstolo São Paulo: “Pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestes” (Efésios 6:12, NVI). Ellen White, no livro Mensagens Escolhidas, volume 2, página 392, CPB, descreve que “haverá um laço de união universal, uma grande harmonia, uma confederação de forças satânicas”. Igualmente, no livro O Grande Conflito, da mesma autora e editora, escrito no século XIX, página 589, acrescenta: “Satanás também atua por meio dos desastres naturais… estudou os segredos da natureza e emprega todo o seu poder para dirigir os elementos tanto quanto Deus o permite … Trará calamidade sobre outros e levará as pessoas a crer que é Deus quem os aflige.”

Muito em breve mega capitalistas, socialistas marxistas ou fabianos, religiosos e ateus estarão unidos num mesmo propósito: salvar o planeta. Grandes nomes da humanidade defenderão o discurso ecológico como elemento pacificador e de união. Mas o propósito é outro. Todos eles querem o poder pelo poder. Ninguém estará preocupado com o bem estar do ser humano, apesar de ser essa a aparência da pregação. O príncipe das trevas usará sua tática eficaz: a ganância. Somos expectadores de profecias antigas escritas na bíblia. A imposição do domingo como dia de guarda é precisamente um grande sinal da volta de Jesus. Será um momento de grande júbilo para os estudantes das profecias bíblicas que estiverem vivos naquele tempo. Vai ser difícil para os guardadores do sábado do sétimo dia. Creio que eles dirão: “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29) “Portanto, quando essas coisas começarem a acontecer, levantem-se e ergam a cabeça, pois a sua salvação estará próxima”, disse Jesus (Lucas 21:28).


12 julho 2020

Fake News

Considere a possibilidade de existir o fogo do inferno, conforme o pensamento cristão. Se dentro de uma pessoa tivesse algo indestrutível, que nem mesmo tal fogo pudesse consumir, o que sobraria dela? Vamos chamar a isso de essência, de natureza. Qual a essência que permaneceria após a morte física? Qual é a identidade que cada pessoa tem?

A Lei 12.965/14 chamada de Marco Civil da Internet proíbe o compartilhamento de conteúdo falso e protege a intimidade alheia. Não vale utilizar a internet alegando a liberdade constitucional de manifestação do pensamento quando o assunto é invadir a privacidade ou atacar a honra do outro. Somos livres para falar a verdade, mas não podemos invocar a liberdade de expressão para mentir. As mentiras são tão antigas quanto a verdade. Desde que existe gente no mundo elas estão por aí andando coladas. É possível identificar uma por causa da outra.

O desafio de qualquer Lei regulatória é proporcionar a liberdade de expressão e de pensamento, além de proibir a mentira nas redes sociais da internet. Sem falar nos aproveitadores que veem no debate uma oportunidade para restringir direitos fundamentais, sob o pretexto da proteção. Olhos abertos, tem experto demais nesse mundo!

Nos tempos antigos também tinha fake news. Alguns assuntos vêm sendo repetidos ao longo dos séculos até que ganharam contornos de verdade. Dentre esses tópicos está a noção de céu e de inferno. Jesus Cristo contou uma parábola tenebrosa. Ainda bem que era só uma parábola e elas servem apenas para ilustrar uma mensagem a ser transmitida. Olha só: Dois homens viviam neste planeta. Um era morador de rua cheio de feridas. O outro era banqueiro. Eu queria ser banqueiro. Acho uma excelente profissão. Os dois morrem. O sábio Salomão entrou em pânico quando descobriu que os ricos também morrem. E parece que morrem mesmo; apesar de serem poucos os sepultamentos de ricos. Já cheguei até desconfiar que os camaradas têm passaporte especial. Pois bem, o miserável foi para um bom lugar. Feliz igual pinto no lixo nem lembrava das desventuras. O outro, por ter feito uso da antecipação de recebíveis do cartão de crédito, não percebeu o saldo negativo no fechamento das contas finais. Foi parar no fogo do inferno. Era o céu e o inferno. Apenas uma rua dividia os dois mundos. O diálogo corria solto entre os vizinhos. O que estava do lado um pouco mais quente gritou para o habitante do polo norte:- Tem água aí? O que tinha o coração gelado, nem se preocupou com o vizinho para lhe oferecer um copo com água. Esperou o infeliz pedir: - Molha, pelo menos, o dedo e põe na minha língua. Não me pergunte sobre a distância entre o céu e o inferno dessa parábola. Talvez devesse ser uma rua estreita como era em Jerusalém no tempo de Cristo. – Não posso, respondeu. Penso comigo que morador do céu não pode ser tão mesquinho assim. Imagina, negar um copo com água! Pois é! O banqueiro queimando eternamente. Nem sei mais se quero ser banqueiro. É bom pesar no custo/benefício da vida. Setenta anos de riqueza, luxo, vida boa … Uma eternidade pegando fogo. Que justiça é essa? Que deus é esse que engana o freguês com poucos anos de vida em troca de bilhões e bilhões de anos num sofrimento sem fim! Esse deus só pode ser masoquista ou tem algo de errado na interpretação do tema.

A bíblia ensina que os mortos estão mortos (Eclesiastes 9:5). Num sono profundo. Apagados. Desligados da tomada. Tipo celular sem carga ou bêbado no final da festa que só sai guinchado. Sei muito bem que ninguém quer morrer para descobrir que paraíso é esse lá em cima. A bíblia não alisa o assunto quando se trata da morte: é dureza. Morreu acabou. Entretanto, ela apresentou a solução: é Jesus Cristo. Basta crer, disse Ele: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (João 11:25). A palavra ressurreição só pode ter um significado: sair da cova.

A Oração do Credo da Igreja Católica Romana diz: “Creio em Deus Pai todo poderoso, criador do céu e da terra, e em Jesus Cristo seu filho único, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo. Nasceu da virgem Maria. Padeceu sob Pôncio Pilatos. Foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos, RESSUSCITOU ao terceiro dia. Subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai todo poderoso, donde há de vir e julgar os vivos e os MORTOS. Creio no Espírito Santo. Na santa igreja Católica. Na comunhão dos santos. Na remissão dos pecados. Na RESSURREIÇÃO da carne e na vida eterna, amém”. Veja que o Credo católico fala em ressurreição. Quem está vivo no céu não precisa ressuscitar. Depois da morte não haverá voo direto ao céu para pobre, ainda que santo; nem inferno para o banqueiro, ainda que pecador; ou com escala para o purgatório com o fim de dar uma canseira para os mais ou menos.

Essa temática do purgatório mais se parece com fake news do que justiça divina. Uma história falsa com aparência de verdade com o fim de desinformar. Quem sabe para dar uma engambelada na consciência e aliviar a rigidez do tema. Se jogar o banqueiro e o morador de rua nas chamas sobra a mesma natureza. A essência é igualzinha.

O Apóstolo São Paulo deu a sugestão de fazer o teste do espelho para confirmar essa tese. Para ele a Lei de Deus é um espelho que revela todas as manchas da personalidade. O missionário tinha um sonho: queria ser igual a Cristo. Imitava-o em tudo. Tanto que um dia escreveu: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20). O velho homem estava morto.

Mas antes de chegar nesse nível espiritual passou por alguns aperreios. Na Carta que escreveu aos Romanos (7:18-24), fala de uma constatação inquietante. Duas naturezas lutavam dentro dele. A natureza humana com as tendências próprias e a natureza divina enxertada pelo Espírito Santo. Uma vida de verdade, sem falsidade, só poderá existir com a atuação do Espírito de Deus.

Ocorre que o ser humano é uma falsidade. Um bom remédio para as fake news da personalidade humana são os dez mandamentos de Deus. Batata. Infalível. Enquanto a humanidade estiver pensando que é imbatível, apenas a morte assusta. Talvez a história do Rico e de Lázaro acima possa despertar um sentimento de medo numa consciência cauterizada pelo pecado.

O que esperar de uma sociedade que precisa de Lei para falar a verdade? Sociedade perdida; seres humanos mortos em seus pecados. A parábola contada por Jesus pretendia dizer que a leitura da bíblia é o guia que ensinará construir uma personalidade inspirada na natureza divina. Depois da morte, o que sobra do ser humano? O que foi formado sobre o fundamento da Rocha o fogo do inferno jamais destruirá. 'Leia o que Moisés escreveu', disse Jesus. 'Não espere que alguém ressuscite dos mortos para começar a crer na mensagem profética', conclui Jesus na história. Talvez este seja o ponto mais importante da parábola: Leia a bíblia.


09 julho 2020

Reforma tributária

O capítulo 12 do primeiro livro bíblico dos Reis de Israel é um vazamento da reunião ministerial do rei Roboão. Isso se deu por volta do ano 945 a.C. O país passava por um bom momento de arrecadação e superávit na balança comercial. Ocorre que o povo viu na passagem de poder pela morte do rei Salomão para seu filho e sucessor Roboão, oportunidade para fazer uma reforma tributária. A prosperidade proclamada era à custa da alta carga de impostos.

A questão fiscal já motivou revoltas populares, guerras, deposição de monarcas ao longo da história em todas as partes do planeta, dentre outros conflitos. No tempo de Roboão, o assunto dos impostos era tão grave que a oposição liderada por Jeroboão, obrigou o palácio a dar satisfação ao clamor popular. O rei recebeu uma comissão cujo líder era ex-funcionário e desafeto de seu pai. É possível que o diálogo tenha começa com ânimo acirrado.

O pedido foi simples: alivia a carga tributária. O rei pediu três dias para dar uma resposta. Na reunião ministerial ele ouviu alguns assessores. Pesou os conselhos e decidiu por aumentar a carga tributária por Medida Provisória. Naquele tempo, a Constituição era o próprio rei porque reunia os poderes executivo, legislativo e judiciário, então podia editar MP com esse tema. Era fácil resolver o princípio da legalidade.

Não deu outra: houve uma revolta popular liderada por Jeroboão, que acabara de chegar do exílio. Estava no Egito. Esses exilados! Eles vêm com sangue nos olhos, discursos inflamados e geralmente assumem o poder. Houve um racha no país. Dos 12 Estados dez seguiram a revolta popular e dois Estados ficaram com o rei.

Ao longo dos anos seguintes, sem dinheiro em caixa para manter um exército forte e sucessivas invasões de países vizinhos foram enfraquecendo a unidade nacional, tanto que a partir de 700 a.C. o país nunca mais foi o mesmo até o início do século XX. Foram 2700 anos de história perdida por uma decisão vaidosa, arrogante. Dar ouvido ao conselho errado pode trazer consequências trágicas. Se ele pelo menos tivesse lido o que o pai escrevera em Provérbios 13:10 talvez a história tivesse outro desfecho: “A arrogância só produz contendas, mas a sabedoria está com aqueles que buscam conselho” com as pessoas certas.

O tema da reforma tributária é controverso. É uma verdadeira queda de braço. Quem está no poder quer reformar para aumentar a arrecadação. No mínimo, nem pensa em perder. A União e os Estados nunca chegam ao consenso, no caso brasileiro. Estados disputam entre si para saber se a arrecadação será na origem ao no destino. Setores produtivos da economia não deixam por menos: travam batalha por incentivos fiscais. Por outro ângulo, o cidadão, o produtor, o comerciante pedem diminuição dos impostos, taxas e contribuições. Sem contar que a equação é alterada pelas ideias políticas de quem ganha a eleição, a condição financeira do povo em dado momento, a pressão de grupos econômicos e políticos. É de fato complexa qualquer reforma fiscal que possa acompanhar a dinâmica da economia.

Se por um lado a simplificação e diminuição da carga tributária provoca uma perda de arrecadação a curto prazo, a longo prazo favorece o crescimento do país. Desonerar a folha de pagamento, por exemplo, incentiva a geração de novos empregos, aumento o consumo, faz o dinheiro circular melhor. Aquece a economia.

Os impostos são parte do esforço produtivo do cidadão transferido para o governo administrar. Uma reforma tributária deverá vir de um pacto federativo com a participação de quem paga a conta. Infelizmente, esse assunto é decidido nos gabinetes sem a consulta popular. Assim, fica fácil pedir a pizza e mandar a conta para o vizinho.

Atualmente, o cidadão nem sabe o quanto paga de impostos e contribuições e muito menos para onde vai seu dinheiro. Apenas no consumo são cinco: ICMS, ISS, IPI, COFINS E PIS/PASEP. Enquanto os governantes digladiam pelo poder para saber quem manda mais ou quem vai abocanhar mais dinheiro, o contribuinte espera de braços cruzados uma solução do debate que pode se arrastar por mais 40 anos. Até lá, vamos aguentando o abuso do poder de tributar.


03 julho 2020

Fidelidade e eficiência na administração

Administrador dos bens de Deus

Gênesis 39:1-6

 

Fidelidade

Dentre os dons que Deus dá ao homem está a riqueza material. Ser rico pode ser uma das bênçãos do céu. Esse dom divino precisa de boa administração. Na verdade, as dádivas materiais vindas do Pai, sejam poucas ou muitas, devem ser administradas com fidelidade e eficiência. Fiel é quem respeita o contrato. É leal. E eficiência é quem produz mais com menos recursos. A bíblia descreve José como bom exemplo de administrador. O que se pode aprender das qualidades administrativas de José do Egito?

Faz bem começar lendo o conselho do Apóstolo Pedro em sua primeira carta (4:10): “Sejam bons administradores dos diferentes dons que receberam de Deus.” A escritora Ellen White, Testemunhos, vol. 3, capítulo 33, versão digital, aplicativo para androide EGW escreveu: “Todo homem é um mordomo de Deus. A cada um confiou o Mestre Seus recursos; mas os homens pretendem que esses recursos são propriedade sua. Diz Cristo: ‘Negociai até que Eu venha’ (Lucas 19:13). ‘Vem o tempo em que Cristo exigirá o Seu com juros.’ (Mateus 25:27). Dirá a cada um de seus mordomos: Presta contas da tua mordomia’ (Lucas 16:2)”. Mordomo é uma palavra de origem latina que significa 'administrador de uma casa'.

Ellen White, Testemunhos Seletos, vol. 2, capítulo 78, versão digital, continua: “Os bens do Senhor devem ser manejados com fidelidade. O Senhor tem confiado aos homens vida, saúde e as faculdades de raciocínio. Tem-lhes dado força física e mental para ser exercida; e não deveriam esses dons ser fiel e diligentemente empregados para a glória do Seu nome? Tem considerado nossos irmãos que precisam prestar contas de todos os talentos colocados em sua posse? Têm eles negociado sabiamente Sua fazenda e sendo inscritos no céu como servos fiéis? Muitos estão gastando o dinheiro de seu Senhor em assim chamados prazeres dissolutos; não estão ganhando experiência em abnegação, mas gastando o dinheiro em vaidades e deixando de levar a cruz de Jesus. Muitos que são privilegiados com preciosas oportunidades, dadas por Deus, têm desperdiçado a vida e agora se acham em sofrimento e necessidade.”

Vejamos algumas qualidades de uma boa administração pela perspectiva da vida do hebreu/egípcio. A primeira característica do bom administrador é a fidelidade. O que é fidelidade nesse contexto? Fidelidade é respeito em cumprir o compromisso assumido, independentemente das consequências. Fidelidade é, também, o zelo com a palavra empenhada. É a decisão firme de manter um acordo. Mais, ainda, é o compromisso pessoal de fazer o que certo, segundo os padrões bíblicos, mesmo que a maioria pense diferente ou seja contra.

José foi fiel à sua consciência diante de condições adversas. Ele levava uma vida muito tranquila e feliz, porque nascera numa família rica. A bíblia relata que suas roupas eram especiais e seu pai lhe favorecia um tratamento diferenciado até os 17 anos de idade, quando sua vida passou por uma reviravolta. Tudo saiu do programado. Os planos foram inesperadamente mudados e ele precisou redirecionar a rota da vida ainda na juventude.

Vendido como escravo pelos próprios irmãos, foi parar na casa de um militar egípcio de alta patente. Mesmo  em situação desvantajosa e vivendo numa terra distante, resolveu manter os princípios aprendidos no lar. A fidelidade é decisão necessária nos momentos desfavoráveis, tais como: ser fiel ao mandamento de Deus quando a maioria despreza, ser fiel no dízimo quando o salário é pequeno, ou decidir retornar à fidelidade em meio às dívidas; ser fiel aos votos matrimoniais diante de proposta tentadora etc. O dom da fidelidade é testado no fogo como os demais, quando a vida oferece momentos de crescimento. O que fazer diante da cobiça, da proposta mais vantajosa em detrimento do compromisso é o passo para frente ou para trás na caminhada da vida.

Por conta de sua postura inicial, o capítulo 39, verso 2, de Gênesis relata que “o Senhor estava com José”; mas José não via a mão de Deus sobre ele. Nós sabemos disso hoje, porque conhecemos o fim da história. É possível que José, bem como alguns de nós, pensou que Deus o abandonara. Só podemos julgar Deus depois de conhecer o fim de todas as histórias. Com exceção de uns poucos privilegiados, Deus não apareceu para ele com promessas de bênçãos em troca de fidelidade. Certamente o rapaz não assistiu a uma palestra de autoajuda ou motivacional na viagem da Palestina para o Egito amarado como se fosse um animal. Porque fidelidade não se compra nem se vende no comércio. É decisão. Postura. Enfrentamento.

A pessoa que decide ser fiel a Deus no dízimo, por exemplo, não pode esperar recompensa. É enganosa a teologia que barganha com Deus. Devolver o dízimo em troca de prosperidade é colocar Deus num balcão de negócios e reduzir o dom da vida e da graça salvadora em mercadoria barata. O sacrifício de Jesus na cruz não tem preço. O sangue do Salvador liberta do pecado, concede vida plena, eterna e feliz. Reconhecer o sacrifício de Cristo é redenção para a alma pecadora. O que um pecador daria a Deus para comprar sua salvação? O que poderia ser maior do que o sacrifício de Jesus na cruz? Constrangido pelo amor de Deus, o pecador decide ser fiel nos dízimos como reconhecimento pelas dádivas recebidas anteriormente das mãos do Criador. Dizimar é um ato de fidelidade, assim como o de ofertar é um ato de gratidão. O dizimista diz para si mesmo: Eu tenho um criador; a Ele me submeto porque é dono de tudo e sou apenas seu administrador; um mordomo de sua casa.

A matemática ensina que após retirar 10% da renda para manutenção da obra de Deus, sobra menos para o administrador. É falaciosa a expectativa de ganho. É preciso administrar o orçamento da família com menos recursos. Daí a necessidade de outras qualidades para administrar bem os 90%.

O verso 5 do capítulo 39 de Gênesis acrescenta que José e tudo que estava em volta dele era abençoado. Há quem consiga ver a mão de Deus em tudo: na longevidade, na saúde da família, nas boas condições de vida, no sol que brilha, na chuva que cai do céu para a lavoura, na empregabilidade constante; em não gastar 30% do salário com medicamentos para controlar pressão arterial, diabetes, problemas cardíacos, doenças autoimunes etc. Por esse prisma, 10% passa a ser valor irrisório. Ainda assim, mesmo diante das bênçãos, o dízimo continua representando um ato de fidelidade e reconhecimento de que há um Deus Criador e mantenedor da vida.

É possível gastar os 90% como quiser? Claro que não. Tudo pertence a Deus. Tudo, 100%. Mas ele permite priorizar os gastos dessa parte. Onde, então, aplicar os 90%? Na obediência aos mandamentos de Deus. É mandamento de Deus cuidar do corpo e da saúde. Dessa forma, é inaceitável comprar com o dinheiro de Deus cigarro, bebidas alcoólicas, alimentos inadequados para o consumo, assinar um canal de pornografia em TV a cabo e por aí vai. Tem que ler a bíblia para conhecer a alimentação ideal. Ellen White, Testemunhos, vol. 9, Capítulo 30, versão digital, afirma: “Cada cristão é um mordomo de Deus, a quem foram confiados os seus bens. Lembrem-se das palavras: ‘Requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel.’”

 

Eficiência

A segunda qualidade importante numa boa administração é a eficiência. Jesus contou a parábola dos talentos. Nela um senhor distribuiu bens de acordo com a capacidade administrativa de cada pessoa. Uns mais, outros menos, a seu critério. Não cabe aqui questionar. Ele é o dono e o patrão, por isso, faz o que bem entender. Conta a bíblia no livro de Mateus (25:21) que “depois de muito tempo, o senhor daqueles servos voltou e fez um ajuste de contas com eles. Aproximando-se o que tinha recebido cinco talentos, entregou outros cinco dizendo: ‘O senhor me confiou cinco talentos, eis aqui outros cinco que ganhei.’ O senhor disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel; você foi fiel no pouco, sobre o muito o colocarei, venha participar da alegria do seu senhor’”.

A regra básica é que para administrar bem um grande empreendimento será necessário fazer bem feito o pequeno, o que foi designado para se fazer. Na primeira Carta de Paulo a Timóteo (3:12 e 13) exorta para o dever de administrar bem sua própria casa antes da empresa onde trabalha, do próprio negócio ou da casa de Deus. O orçamento doméstico é o primeiro desafio administrativo de qualquer pessoa que tem parcos recursos.

José na adolescência desenvolvia atribuições designadas pelo pai. No verso 14 de Gênesis 37 conta que ele prestava relatórios ao pai das atividades rurais dos irmãos. É importante escrever um planejamento, colocar no papel um orçamento financeiro, estabelecer prioridades. Além de fazer bem feito o trabalho que lhe foi designado, José não compactuava com o erro, ao ponto de ser considerado persona non grata. Daí a necessidade que aprendeu muito cedo administrar conflitos.

Nem sempre é fácil administrar o orçamento doméstico. Às vezes os interesses são antagônicos entre os membros do núcleo familiar. O diálogo ainda é a melhor ferramenta para resolver conflitos. No livro Esperança para a Família, o caminho para um final feliz (Willie e Elaine Oliver, CPB, 2018, SP, pág. 44), escrevendo sobre a intimidade de um casal para tratar dos diversos assuntos conjugais afirmam que “isso é muito mais que nudez física. Em realidade, diz respeito a um relacionamento em que há total transparência emocional, financeira, intelectual e espiritual”. Veja que a intimidade financeira é necessária para o sucesso no orçamento doméstico.

José era um sonhador. "Todo vencedor é de fato um sonhador". Ele vivia contando seus sonhos para a família. Desde cedo já desenvolvia as qualidades de pensar, interagir e compartilhar. Ter uma boa comunicação. Ao contar seus sonhos para os pais e para seus irmãos nem sempre era visto com bons olhos. Nunca desanime os sonhos dos filhos. Incentive para que sejam vencedores.

Portanto, começar administrando bem a pequena atividade que vem às mãos, ter a habilidade de resolver pacificamente os conflitos e acreditar em seus sonhos foram parte do segredo do sucesso de José como bom administrador. “Frutifique onde você está plantado” (Autor desconhecido). Faça bem feito o que vier às suas mãos.

 

De estagiário a administrador júnior. Superando a adversidade.

Administrar com austeridade gera insatisfação. Não demorou muito, já que estava com 17 anos de idade, seus irmãos o venderam como escravo para uma caravana de ismaelitas que por ali passava. Parou no Egito na casa de um funcionário público de alto escalão. O resultado foi que ele cresceu como administrador. À primeira vista não era exatamente isso que se enxergava. Pode ser que o desemprego bata à porta, um acidente, quem sabe uma doença que induz pensar que Deus se esqueceu do sofredor. Deus guia por caminhos inimagináveis. A fé dá força quando tudo parece perdido. A confiança em Deus é como luz diante da escuridão para a alma desesperada.

“Frutifique onde está plantado”. Esta era uma máxima para José. O relato bíblico conta que o general Potifar de nada sabia das faturas domésticas, porque José era um trabalhador que utilizava os recursos com eficiência. Ele não era preguiçoso. Tinha compromisso com seu trabalho. Era pontual e entrega a produção em tempo hábil. O rapaz tinha empatia e cordialidade. Ele acordava cedo e trabalhava duro. Era belo – isso é só para os escolhidos, mas é possível ser um bom administrador feio – ao ponto de despertar os olhares da esposa de seu patrão.

Ellen White, Patriarcas e Profetas, Capítulo 20, José no Egito, diz: “A assinalada prosperidade que acompanhava todas as coisas postas aos cuidados de José, não era resultado de um milagre direto; mas sim a sua operosidade, zelo e energia eram coroados pela bênção divina. José atribuía seu êxito ao favor de Deus, e mesmo seu senhor idólatra aceitava isso como o segredo de sua prosperidade sem-par. Sem um esforço perseverante e bem dirigido jamais poderia, entretanto, haver conseguido o êxito. Deus era glorificado pela fidelidade de Seu servo.”

José era flexível. Percebia que a inovação e o aprendizado contínuo eram condições necessárias para se adaptar aos novos ambientes. Mesmo diante de sua vida correta, o jovem foi parar injustamente na prisão. Naquele tempo não se observavam direito as garantias processuais como ampla defesa e o contraditório. Sua capacidade de superação foi construída com muita paciência. Na cela, cuidava dos presos que com ele estavam. Muito mais do que isso, ele se preocupava com as pessoas.

 

Do sonho à realidade

Para administrar bem a vida, a casa, o trabalho, é possível que alguns passem por desafios. José enfrentou a oposição da própria família nos anos iniciais. Seus irmãos o tratavam asperamente. Ele não respondeu com ódio. O remédio foi a paciência. Depois da oposição veio a tentação com a mulher do chefe, que desviou o percurso da carreira profissional. E nesse momento de sua vida, passa por injustiça: esteve preso por dois longos anos. Simpático com era, fez amizade com um preso a quem pediu ajuda para levar seu caso à Defensoria Pública. Fora da cadeia, o copeiro-chefe, que acabara de passar por uma situação bem delicada no palácio, não quis arriscar seu cargo em comissão para pedir por um preso desconhecido. A ingratidão foi mais um obstáculo a ser vencido pelo jovem empreendedor. Muitos passam pela falta de reconhecimento em seu trabalho. Vingança e ódio não são respostas aceitáveis quando o mundo dá a volta e quem esteve embaixo fica por cima. Nesse momento, prevalecem os valores aprendidos desde a infância. Quais são os valores expostos, quando se está no poder e pode agir com vingança? O que o poder ou a riqueza revelariam sobre a personalidade?

 

De administrador Júnior a Administrador Sênior.

Às vezes é preciso de um milagre para que se dê uma guinada na vida. Se for preciso, Deus fará isso, sim. Deus deu um sonho para Faraó. Dois sonhadores juntos vão longe. Eles se entendem porque falam a mesma linguagem. José é chamado para interpretar o sonho do Presidente da República. Nessas horas, a resposta precisa estar na ponta da língua. Dizem que "sorte é a oportunidade diante de uma pessoa preparada" (autoria desconhecida). Mas ele tinha as mãos calejadas e disposição para o trabalho, e soube identificar o problema e apresentar a solução imediatamente. Foi mais longe, organizou um plano de trabalho em poucos minutos. Estabeleceu metas de curto, médio e longo prazo para 14 anos. O moço tinha visão.

Não deu outra: foi nomeado como assessor no gabinete da presidência. Os anos se passaram. Como bom administrador, sabia ajustar o percurso, reorganizar os prazos, rever resultados e agir com rapidez. Foi assim quando houve desvalorização imobiliária, desemprego, fome, pandemia...

Ellen White, Testemunhos Seletos, capítulo 13, versão digital, Responsabilidade para com Deus, acrescenta: “Deus se desgosta com a maneira negligente, frouxa em que muitos dos que professam ser seu povo dirigem seus negócios mundanos. Parecem ter perdido todo o senso de que a propriedade que estão usando pertence a Deus, e lhe devem prestar contas de sua mordomia. Alguns têm os negócios seculares em total confusão.”

 

 

Qual é o seu sonho?

As crianças são naturalmente sonhadoras. Os adultos perdem a capacidade de sonhar pelo caminho da vida por conta dos sofrimentos, angústias, quiçá uma doença. O pecado, também, tira a capacidade de sonhar. O mais importante é descobrir o sonho de Deus para a vida. Se o sonho é a salvação, deve cultivar a semente dela que o Senhor já plantou no coração. Acreditar nesse sonho é transformador porque muda a maneira de pensar e agir. Que sonho está cultivando?

As mudanças da vida pedem adaptações às novas circunstâncias e elas são contínuas. Faz parte do processo. Quem viveu a mesma coisa nos últimos 10 anos, apenas viveu o mesmo ano 10 vezes. Quem quer resultado diferente na administração da vida, deve ter atitude diferente das anteriores, sem medo de sonhar e enfrentar obstáculos, porque “os obstáculos existem para serem vencidos” e eles aperfeiçoam (autor desconhecido). Levantar a cabeça e lutar é um imperativo. Não murmurar nem contar os problemas para as pessoas. Parte delas não está nem aí para problemas alheios. A outra parte está feliz porque o outro tem problemas (Mário Sérgio Cortella). A pergunta é: onde se quer chegar? Qual o preço que está disposto a pagar?

Fidelidade e eficiência são princípios fundamentais para o sucesso de uma boa administração. O percurso não será fácil, mas valerá à pena a chegada.