15 julho 2020

Sociedade fabiana

Fábio Máximo (Quintus Fabius Maximus Verrucosus – 275 – 203 a.C.) foi cônsul romano por cinco vezes quando dois cônsules compartilhavam a administração do Estado e duas vezes ditador no período da República entre os anos 233 a 209 a.C. Ficou conhecido por sua tática prolongada de guerra contra Aníbal de Cartago no norte da África, especialmente na segunda guerra púnica.

Em referência ao método de guerra do cônsul romano, foi criada em Londres no dia 4 de janeiro de 1884 a sociedade fabiana, movimento político socialista que entendia a tomada do poder pelos trabalhadores de forma gradual, infiltrando nas instituições, propondo dominação do pensamento coletivo como estratégia diferente dos marxistas que queriam o poder de forma revolucionária, assim como aconteceu na Rússia, China e outros países.

Inspirados na tática de fazer guerra de Fábio Máximo alguns filósofos, cientistas políticos, economistas, físicos, dramaturgos como H. G. Wells, Emmeline Punkhurst, Leonard Woolf, George Bernard Shaw, Annie Wood Besant, Bertrand Arthur William Russell, Salama Moussa, Harold Laski, Edward Carpenter, Oliver Joseph Lodge, Richard Henry Tawney, Jawaharlal Nehru, Georg Douglas Howard Cole dentre outros, fundaram o Partido Trabalhista em 1906 no Reino Unido, e alguns desses nomes foram expoentes do movimento socialista fabiano ao longo do século XX.

O ardil socialismo fabiano foi explicado por Maria Antonieta Macciochi, feminista italiana dos anos 70, em seu livro A favor de Gramsci, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976, p.151: “Esse sistema ideológico envolve o cidadão por todos os lados, integra-o desde a infância no universo escolar e mais tarde no da igreja, do exército, da cultura, das diversões, e inclusive do sindicato, e assim até a morte, sem a menor trégua; essa prisão de mil janelas simboliza o reino de uma hegemonia, cuja força reside menos da coerção do que no fato de que suas grades são tanto mais eficazes quanto menos visíveis se tornam.” Sim, grades eficazes quanto menos visíveis forem. No caso brasileiro, essa doutrina está impregnada como nódoa no tecido social que levará anos para limpar a mancha nefasta das instituições públicas, universidades, sindicatos, igrejas, partidos políticos, escolas primárias, dentre outras organizações sociais.

A agenda socialista fabiana está mais forte do que no passado. O mote socialista deixou de ser a luta de classes ou o que chama de capitalismo selvagem para erguer a bandeira da ecologia. O discurso ecológico é simpático, unificador e encontra apoio em todas as classes sociais, culturas e religiões. Pascal Bernardin, jornalista e engenheiro francês, denuncia no livro ‘O Império Ecológico ou a subversão da ecologia pelo globalismo’ (Vide Editorial, páginas de 10 a 12), que tem crescido um discurso ecológico totalitário, mascarado que monopoliza a mídia. O escritor fala de uma ideologia unificadora das religiões e de um governo mundial.

O Papa Francisco é o grande defensor do “ecumenismo ecológico”. Nos últimos anos o líder religioso tem se dedicado, basicamente a dois temas: Ecologia e ecumenismo. Na verdade, propõe a união das religiões para cuidar do planeta. Exemplo disse é a chamada “economia de Francisco” revelada no Sínodo da Amazônia e na Carta Encíclica Laudato si. Na Carta papal o líder católico defende o domingo como dia de descanso para a humanidade cuidar do planeta, da família e dia especial de culto religioso.

O Instituto Humanista Unisinos, entidade Católica Jesuíta, publicou no site ihu.unissinos.br no dia 20 de abril de 2020 artigo intitulado “A comunhão com nossa irmã-mãe terra vai ter que ressuscitar após esta pandemia” (pandemia de covid-19 de 2020). Num discurso religioso diz: “Como Noé, hoje somos chamados a assumir uma opção essencial para o cuidado da casa comum …” O artigo continua dizendo que esta sociedade de consumo, desperdício e desigualdades está indo para o fim.

No dia 12 de março de 2018 o site vaticannews.va publicou a notícia: “Hebreus, cristãos e muçulmanos juntos para salvar o planeta”, referindo-se ao Congresso Notre Dame de Jerusalém cujo objetivo era apresentar a Carta Laudato si. No Congresso, destacaram-se trechos da Carta para enfatizar que a Terra “clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável”. Obviamente, a ação humana está poluindo rios e o ar, desmatando, alterando fauna e flora.

O ECO ecológico encontra replicadores no meio evangélico/protestante por ser o discurso da moda. E parece que ninguém quer ficar de fora da onda. No programa ‘Vejam só’ da RIT TV exibido no dia 10 de janeiro de 2020, o entrevistado Reverendo Ageu Cirilo de Magalhães Júnior, diretor do Seminário Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição, defende a ideia de que a pandemia de COVID-19 é a “mão de Deus sobre a terra”. Na mesma linha de pensamento de salvar o planeta, o teólogo exorta que devemos nos aproximar mais de Deus, especialmente dedicando o domingo como dia para cuidar das questões religiosas, porque, segundo suas palavras, o dia de domingo é o “mandamento esquecido”. Católicos e protestantes estão mais próximos do que nunca. Além do cuidado da "casa comum", dois pontos doutrinários importantes são compartilhados: o domingo, como dia de descanso, e a crença na imortalidade da alma.

O ex-frei Leonardo Boff, outrora silenciado pelo Papa antissocialista João Paulo II, encontrou apoio no Papa socialista Francisco. O Frei publicou texto com o título “A transição ecológica para uma sociedade biocentrada”, no site franciscanos.org.br, em 23/06/2020, no qual afirma que o coronavírus, arma letal de ‘Gaia’, “…expressa a lógica do capitalismo global que, há séculos, conduz uma guerra sistemática contra a natureza e contra a Terra.” E acrescenta que “a ONU reconheceu a Terra como Mãe Terra e a natureza como titulares de direitos. Isso implica que a democracia deverá incorporar como novos cidadãos, as florestas, as montanhas, os rios, as paisagens. A democracia seria socio-ecológica (sic).”

Aqui e acolá poucas vozes destoantes soam no seio católico como Dom José Luis Azcona Hermoso, Bispo Católico Emérito da Prelazia do Marajó (PA), que faz crítica ao Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia por fugir do propósito de um sínodo ao deixar de fazer menção a Cristo crucificado e ressuscitado, segundo suas palavras em homilia, para um discurso político, e por elevar o indígena da Amazônia à perfeição, mesmo sendo humano e pecador como todos (YouTube, Apostolado Petrino, Homilia de Dom Azcona, em 18/10/2019).

De fato, a quarentena no período da pandemia de COVID-19 no primeiro semestre de 2020 favoreceu mudanças pontuais que foram observadas em rios que ficaram mais limpos, além de diminuição de lançamento de dióxido de carbono na atmosfera em cidades muito populosas. Esses bons exemplos de restauração da natureza unem religiosos de todo mundo, ateus e socialista marxistas ou fabianos sob a mesma bandeira e liderança do Papa Francisco.

Vem ganhando força o discurso de parar tudo aos domingos para que a Terra possa descansar. As catástrofes naturais e as pandemias de ebola, covid-19, H1N1, Zica Vírus, Chicungunha, Gripe Suína, Gripe Aviária, SARS e outras doenças podem favorecer o surgimento de ditadores com discurso de proteção da vida com a finalidade de controlar a população e os meios de comunicação. Certamente, imporão normas de comportamento e domínio social, dentre elas a imposição de descanso no domingo para cuidar do planeta, da família e para celebração religiosa. Ocorre que a liberdade é tão importante quanto a vida. É inadmissível perder a liberdade para proteger a vida.

Os livros históricos registram que o primeiro dia da semana era venerado pelos romanos como dia de adoração ao sol. No dia 7 de março de 321 d. C., o imperador Constantino promulgou decreto fazendo do domingo um dia de festividade pública: “Que no venerável dia do sol os magistrados e as pessoas residentes nas cidades descansem, e que todas as oficinas estejam fechadas. No campo ainda que as pessoas ocupadas na agricultura possam livremente continuar seus afazeres pois pode acontecer que qualquer outro dia não seja apto para a plantação de vinhas ou de sementes” (Christian Classics Ethereal Library, Canon 29 of Council of Laodicea). Esse foi a passo mais importante para o esquecimento e substituição do sábado da Lei de Deus pelo domingo. É oportuno dizer que está escrito no texto do quarto mandamento do decálogo de Deus “lembra-te do dia de sábado para o santificar” (Êxodo 20:8-11). Deus sabia que a humanidade iria esquecê-lo, por isso começou sua redação com a palavra “lembra-te”.

As condições são favoráveis. O discurso está pronto. Só falta implementação do domingo como dia de guarda/descanso. A Constituição Federal brasileira assegura no artigo 7º, inciso XV, que são direitos dos trabalhadores “repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos”. No catecismo, o sábado da Lei de Deus foi mudado pelo domingo por determinação da Igreja Católica em lembrança da ressurreição de Jesus no primeiro dia da semana. Na Carta Encíclica Dies Domini do Papa João Paulo II, o ‘Pontífice explica com clareza porque, por exemplo, a Igreja Católica Romana substituiu o sábado pelo domingo. Convenientemente, os primeiros protestantes foram na mesma linha dos Católicos. Esqueceram o que era para ser lembrado. O livro de Êxodo (20:8-11) expressa de forma cristalina os motivos da obediência ao preceito sabático. Somos indesculpáveis quando buscamos razão para a desobediência da ordem de Deus alegando abolição do decálogo pela morte de Cristo na cruz. O curioso é que o alvo da abolição só alcançou o quarto mandamento. Todos os nove mandamentos do decálogo são aceitáveis, menos o sábado, segundo dizem aqueles que advogam a tese da comodidade’ (extraído do texto O Espírito Santo e o selo de Deus no livro do Apocalipse, publicado neste blog em 22/06/2020).

O Papa João Paulo II depois de fazer uma explanação das razões e importância do sábado na lei mosaica, defende a tese de que a morte e ressurreição de Cristo proporcionou um descanso e recriação da humanidade tal qual o sábado faz referência à criação inicial do relato de Gênesis 1. A seguir, destacam-se trechos do documento “O dia do Senhor – Carta Apostólica Dies Domini, do Sumo Pontífice João Paulo II ao episcopado, ao clero e aos fiéis da Igreja Católica sobre a santificação do domingo”. No capítulo de título “O Shabbat: o repouso jubiloso do Criador", o Papa João Paulo II, de forma poética, dá as razões do porquê o sábado deve ser lembrado: “O repouso divino do sétimo dia não alude a um Deus inactivo (sic), mas sublinha a plenitude do que fora realizado, como que a exprimir a paragem de Deus diante da obra ‘muito boa’ (Gn 1,31) saída das mãos, para lançar sobre ela um olhar repleto de jubilosa complacência: um olhar ‘contemplativo’, que não visa novas realizações, mas sobretudo apreciar a beleza do quanto foi feito; um olhar lançado sobre todas as coisas, mas especialmente sobre o homem, ponto culminante da criação. É um olhar no qual já se pode, de certa forma, intuir a dinâmica ‘esponsal’ da relação que Deus quer estabelecer com a criatura feita à sua imagem, chamando-a a comprometer num pacto de amor.” Diz o pontífice que o sábado é uma aliança de amor entre Deus e o homem como num casamento, é um ato tanto da criação, quanto da libertação de “Israel da escravidão do Egito (cf. Dt 5,12-15)”.

No subtítulo “Deus abençoou o sétimo dia e santificou-o (Gn 2,3)”, a Carta expressa: “O preceito do sábado… não está situado junto das normativas puramente culturais, como é o caso de tantos outros preceitos, mas dentro do Decálogo, as ‘dez palavras’ que delineiam os próprios pilares da vida moral, inscrita universalmente no coração do homem. Concebendo este mandamento no horizonte das estruturas fundamentais da ética, Israel e, depois, a Igreja mostram que não o consideram uma simples norma de disciplina religiosa comunitária, mas uma expressão qualificante e imprescindível da relação com Deus, anunciada e proposta pela revelação bíblica. Se possui também uma convergência natural com a necessidade humana de repouso é, contudo, à fé que é preciso fazer apelo para captar o seu sentido profundo, evitando o risco de banalizá-lo e traí-lo. Portanto, o dia do repouso é tal primariamente porque é o dia ‘abençoado’ por Deus e por Ele ‘santificado’, isto é, separado dos demais dias para ser, de entre todos, o ‘dia do Senhor’”.

Em outro subtítulo da Encíclica “Recordar para Santificar”, acrescenta: “O mandamento do Decálogo, pelo qual Deus impõe a observância do sábado, tem, no livro do êxodo, uma formulação característica: ‘Recorda-te do dia de sábado, para o santificares’ (20,8). E mais adiante, o texto inspirado dá a razão disse mesmo, apelando-se à obra de Deus: ‘Porque em seis dias o Senhor fez o céu, a terra, o mar e tudo quanto contém, e descansou no sétimo; por isso o Senhor abençoou o dia de sábado e santificou’ (v. 11). Antes de impor qualquer coisa a ser praticada, o mandamento indica algo a recordar. Convida a avivar a memória daquela grande e fundamental obra de Deus que é a criação. É uma memória que deve assumir toda a vida religiosa do homem, para depois confluir no dia em que ele é chamado a repousar. O repouso assume, assim, um típico valor sagrado: o fiel é convidado a repousar não só como Deus repousou, mas a repousar no Senhor, devolvendo-Lhe toda a criação, no louvor, na acção (sic) de graças, na intimidade filial e na amizade esponsal.”

Logo depois do discurso como se fosse uma defesa do repouso sabático, a Carta Encíclica no subtítulo “Passagem do sábado ao domingo” expressa a causa da mudança ao dizer que “Cristo constitui a revelação plena do mistério das origens, o cume da história da salvação e a antecipação do cumprimento escatológico do mundo. Aquilo que Deus realizou na criação e o que fez pelo seu povo no êxodo, encontrou na morte e ressurreição de Cristo o seu cumprimento, embora este tenha a sua expressão definitiva apenas na parusia, com a vinda gloriosa de Cristo.” Mais adiante cita frase de S. Gregório Magno: “Nós consideramos verdadeiro sábado a pessoa de nosso redentor, nosso Senhor Jesus Cristo”. Por fim, conclui sobre a mudança do sábado para o domingo nestas palavras: “À luz deste mistério, o sentido do preceito vetero testamentário do dia do Senhor é recuperado, integrado e plenamente revelado na glória que brilha na face de Cristo Ressuscitado (cf. 2 Cor. 4,6). Do ‘sábado’ passa-se ao ‘primeiro dia depois do sábado’, do sétimo passa-se ao primeiro dia: o dies Domini torna-se o dies Christi!” Portanto, para os Católicos Romanos a ressurreição de Jesus Cristo é a razão da mudança do sábado para o domingo como dia santo, conforme defendeu o Papa João Paulo II na Carta Encíclica Dies Domini.

Quando Jesus Cristo veio a este mundo encontrou 'uma igreja' pregando tradições humanas. A leitura do texto profético era secundária. Hoje estamos vivendo na mesma situação: na defesa das tradições humanas. Disse Jesus: “A adoração deste povo é inútil, pois eles ensinam leis humanas como se fossem meus mandamentos” (Mateus 15:9).

Há uma correta preocupação por zelar pelo planeta. Todavia, pessoas passam fome, outras são refugiadas de guerras insanas, há trabalho escravo e exploração de crianças. Queremos cuidar do planeta e esquecemos de cuidar das pessoas. Uma atitude não pode excluir a outra. As pessoas precisam de solidariedade, amor, respeito, alimento. Se deixar o planeta sozinho sem intervenção negativa do homem ele se restaura em poucas centenas de anos.

O discurso ecológico foi facilmente comprado pelos humanos que não desconfiaram que ele vem de ordem superior do mundo dos espíritos. Forças espirituais estão dando as cartas. Como escreveu o Apóstolo São Paulo: “Pois a nossa luta não é contra seres humanos, mas contra os poderes e autoridades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra as forças espirituais do mal nas regiões celestes” (Efésios 6:12, NVI). Ellen White, no livro Mensagens Escolhidas, volume 2, página 392, CPB, descreve que “haverá um laço de união universal, uma grande harmonia, uma confederação de forças satânicas”. Igualmente, no livro O Grande Conflito, da mesma autora e editora, escrito no século XIX, página 589, acrescenta: “Satanás também atua por meio dos desastres naturais… estudou os segredos da natureza e emprega todo o seu poder para dirigir os elementos tanto quanto Deus o permite … Trará calamidade sobre outros e levará as pessoas a crer que é Deus quem os aflige.”

Muito em breve mega capitalistas, socialistas marxistas ou fabianos, religiosos e ateus estarão unidos num mesmo propósito: salvar o planeta. Grandes nomes da humanidade defenderão o discurso ecológico como elemento pacificador e de união. Mas o propósito é outro. Todos eles querem o poder pelo poder. Ninguém estará preocupado com o bem estar do ser humano, apesar de ser essa a aparência da pregação. O príncipe das trevas usará sua tática eficaz: a ganância. Somos expectadores de profecias antigas escritas na bíblia. A imposição do domingo como dia de guarda é precisamente um grande sinal da volta de Jesus. Será um momento de grande júbilo para os estudantes das profecias bíblicas que estiverem vivos naquele tempo. Vai ser difícil para os guardadores do sábado do sétimo dia. Creio que eles dirão: “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens” (Atos 5:29) “Portanto, quando essas coisas começarem a acontecer, levantem-se e ergam a cabeça, pois a sua salvação estará próxima”, disse Jesus (Lucas 21:28).