Considere a possibilidade de existir o fogo do inferno,
conforme o pensamento cristão. Se dentro de uma pessoa tivesse algo
indestrutível, que nem mesmo tal fogo pudesse consumir, o que sobraria dela?
Vamos chamar a isso de essência, de natureza. Qual a essência que permaneceria após
a morte física? Qual é a identidade que cada pessoa tem?
A Lei 12.965/14 chamada de Marco Civil da Internet proíbe o
compartilhamento de conteúdo falso e protege a intimidade alheia. Não vale utilizar
a internet alegando a liberdade constitucional de manifestação do
pensamento quando o assunto é invadir a privacidade ou atacar a honra do outro.
Somos livres para falar a verdade, mas não podemos invocar a liberdade de
expressão para mentir. As mentiras são tão antigas quanto a verdade. Desde que
existe gente no mundo elas estão por aí andando coladas. É possível identificar
uma por causa da outra.
O desafio de qualquer Lei regulatória é proporcionar a
liberdade de expressão e de pensamento, além de proibir a mentira nas redes
sociais da internet. Sem falar nos aproveitadores que veem no debate uma
oportunidade para restringir direitos fundamentais, sob o pretexto da proteção.
Olhos abertos, tem experto demais nesse mundo!
Nos tempos antigos também tinha fake news. Alguns
assuntos vêm sendo repetidos ao longo dos séculos até que ganharam contornos de
verdade. Dentre esses tópicos está a noção de céu e de inferno. Jesus Cristo
contou uma parábola tenebrosa. Ainda bem que era só uma parábola e elas servem
apenas para ilustrar uma mensagem a ser transmitida. Olha só: Dois homens
viviam neste planeta. Um era morador de rua cheio de feridas. O outro era
banqueiro. Eu queria ser banqueiro. Acho uma excelente profissão. Os dois
morrem. O sábio Salomão entrou em pânico quando descobriu que os ricos também
morrem. E parece que morrem mesmo; apesar de serem poucos os sepultamentos de
ricos. Já cheguei até desconfiar que os camaradas têm passaporte especial. Pois
bem, o miserável foi para um bom lugar. Feliz igual pinto no lixo nem lembrava
das desventuras. O outro, por ter feito uso da antecipação de recebíveis do
cartão de crédito, não percebeu o saldo negativo no fechamento das contas
finais. Foi parar no fogo do inferno. Era o céu e o inferno. Apenas uma rua
dividia os dois mundos. O diálogo corria solto entre os vizinhos. O que estava
do lado um pouco mais quente gritou para o habitante do polo norte:- Tem água
aí? O que tinha o coração gelado, nem se preocupou com o vizinho para lhe
oferecer um copo com água. Esperou o infeliz pedir: - Molha, pelo menos, o dedo
e põe na minha língua. Não me pergunte sobre a distância entre o céu e o
inferno dessa parábola. Talvez devesse ser uma rua estreita como era em Jerusalém
no tempo de Cristo. – Não posso, respondeu. Penso comigo que morador do céu não
pode ser tão mesquinho assim. Imagina, negar um copo com água! Pois é! O
banqueiro queimando eternamente. Nem sei mais se quero ser banqueiro. É bom
pesar no custo/benefício da vida. Setenta anos de riqueza, luxo, vida boa … Uma
eternidade pegando fogo. Que justiça é essa? Que deus é esse que engana o
freguês com poucos anos de vida em troca de bilhões e bilhões de anos num
sofrimento sem fim! Esse deus só pode ser masoquista ou tem algo de errado na
interpretação do tema.
A bíblia ensina que os mortos estão mortos (Eclesiastes
9:5). Num sono profundo. Apagados. Desligados da tomada. Tipo celular sem carga
ou bêbado no final da festa que só sai guinchado. Sei muito bem que ninguém
quer morrer para descobrir que paraíso é esse lá em cima. A bíblia não alisa o
assunto quando se trata da morte: é dureza. Morreu acabou. Entretanto, ela apresentou
a solução: é Jesus Cristo. Basta crer, disse Ele: “Eu sou a ressurreição e a
vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (João 11:25). A palavra
ressurreição só pode ter um significado: sair da cova.
A Oração do Credo da Igreja Católica Romana diz: “Creio em
Deus Pai todo poderoso, criador do céu e da terra, e em Jesus Cristo seu filho
único, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo. Nasceu da
virgem Maria. Padeceu sob Pôncio Pilatos. Foi crucificado, morto e sepultado.
Desceu à mansão dos mortos, RESSUSCITOU ao terceiro dia. Subiu aos céus e está
sentado à direita de Deus Pai todo poderoso, donde há de vir e julgar os vivos
e os MORTOS. Creio no Espírito Santo. Na santa igreja Católica. Na comunhão dos
santos. Na remissão dos pecados. Na RESSURREIÇÃO da carne e na vida eterna,
amém”. Veja que o Credo católico fala em ressurreição. Quem está vivo no céu não
precisa ressuscitar. Depois da morte não haverá voo direto ao céu para pobre,
ainda que santo; nem inferno para o banqueiro, ainda que pecador; ou com escala
para o purgatório com o fim de dar uma canseira para os mais ou menos.
Essa temática do purgatório mais se parece com fake news
do que justiça divina. Uma história falsa com aparência de verdade com o fim de
desinformar. Quem sabe para dar uma engambelada na consciência e aliviar a rigidez
do tema. Se jogar o banqueiro e o morador de rua nas chamas sobra a mesma
natureza. A essência é igualzinha.
O Apóstolo São Paulo deu a sugestão de fazer o teste do
espelho para confirmar essa tese. Para ele a Lei de Deus é um espelho que
revela todas as manchas da personalidade. O missionário tinha um sonho: queria
ser igual a Cristo. Imitava-o em tudo. Tanto que um dia escreveu: “Já não sou
eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20). O velho homem estava
morto.
Mas antes de chegar nesse nível espiritual passou por alguns
aperreios. Na Carta que escreveu aos Romanos (7:18-24), fala de uma constatação
inquietante. Duas naturezas lutavam dentro dele. A natureza humana com as
tendências próprias e a natureza divina enxertada pelo Espírito Santo. Uma vida
de verdade, sem falsidade, só poderá existir com a atuação do Espírito de Deus.
Ocorre que o ser humano é uma falsidade. Um bom remédio para
as fake news da personalidade humana são os dez mandamentos de Deus.
Batata. Infalível. Enquanto a humanidade estiver pensando que é imbatível, apenas
a morte assusta. Talvez a história do Rico e de Lázaro acima possa despertar um
sentimento de medo numa consciência cauterizada pelo pecado.
O que esperar de uma sociedade que precisa de Lei para falar
a verdade? Sociedade perdida; seres humanos mortos em seus pecados. A parábola
contada por Jesus pretendia dizer que a leitura da bíblia é o guia que ensinará
construir uma personalidade inspirada na natureza divina. Depois da morte, o
que sobra do ser humano? O que foi formado sobre o fundamento da Rocha o fogo
do inferno jamais destruirá. 'Leia o que Moisés escreveu', disse Jesus. 'Não
espere que alguém ressuscite dos mortos para começar a crer na mensagem
profética', conclui Jesus na história. Talvez este seja o ponto mais importante
da parábola: Leia a bíblia.