12 julho 2020

Fake News

Considere a possibilidade de existir o fogo do inferno, conforme o pensamento cristão. Se dentro de uma pessoa tivesse algo indestrutível, que nem mesmo tal fogo pudesse consumir, o que sobraria dela? Vamos chamar a isso de essência, de natureza. Qual a essência que permaneceria após a morte física? Qual é a identidade que cada pessoa tem?

A Lei 12.965/14 chamada de Marco Civil da Internet proíbe o compartilhamento de conteúdo falso e protege a intimidade alheia. Não vale utilizar a internet alegando a liberdade constitucional de manifestação do pensamento quando o assunto é invadir a privacidade ou atacar a honra do outro. Somos livres para falar a verdade, mas não podemos invocar a liberdade de expressão para mentir. As mentiras são tão antigas quanto a verdade. Desde que existe gente no mundo elas estão por aí andando coladas. É possível identificar uma por causa da outra.

O desafio de qualquer Lei regulatória é proporcionar a liberdade de expressão e de pensamento, além de proibir a mentira nas redes sociais da internet. Sem falar nos aproveitadores que veem no debate uma oportunidade para restringir direitos fundamentais, sob o pretexto da proteção. Olhos abertos, tem experto demais nesse mundo!

Nos tempos antigos também tinha fake news. Alguns assuntos vêm sendo repetidos ao longo dos séculos até que ganharam contornos de verdade. Dentre esses tópicos está a noção de céu e de inferno. Jesus Cristo contou uma parábola tenebrosa. Ainda bem que era só uma parábola e elas servem apenas para ilustrar uma mensagem a ser transmitida. Olha só: Dois homens viviam neste planeta. Um era morador de rua cheio de feridas. O outro era banqueiro. Eu queria ser banqueiro. Acho uma excelente profissão. Os dois morrem. O sábio Salomão entrou em pânico quando descobriu que os ricos também morrem. E parece que morrem mesmo; apesar de serem poucos os sepultamentos de ricos. Já cheguei até desconfiar que os camaradas têm passaporte especial. Pois bem, o miserável foi para um bom lugar. Feliz igual pinto no lixo nem lembrava das desventuras. O outro, por ter feito uso da antecipação de recebíveis do cartão de crédito, não percebeu o saldo negativo no fechamento das contas finais. Foi parar no fogo do inferno. Era o céu e o inferno. Apenas uma rua dividia os dois mundos. O diálogo corria solto entre os vizinhos. O que estava do lado um pouco mais quente gritou para o habitante do polo norte:- Tem água aí? O que tinha o coração gelado, nem se preocupou com o vizinho para lhe oferecer um copo com água. Esperou o infeliz pedir: - Molha, pelo menos, o dedo e põe na minha língua. Não me pergunte sobre a distância entre o céu e o inferno dessa parábola. Talvez devesse ser uma rua estreita como era em Jerusalém no tempo de Cristo. – Não posso, respondeu. Penso comigo que morador do céu não pode ser tão mesquinho assim. Imagina, negar um copo com água! Pois é! O banqueiro queimando eternamente. Nem sei mais se quero ser banqueiro. É bom pesar no custo/benefício da vida. Setenta anos de riqueza, luxo, vida boa … Uma eternidade pegando fogo. Que justiça é essa? Que deus é esse que engana o freguês com poucos anos de vida em troca de bilhões e bilhões de anos num sofrimento sem fim! Esse deus só pode ser masoquista ou tem algo de errado na interpretação do tema.

A bíblia ensina que os mortos estão mortos (Eclesiastes 9:5). Num sono profundo. Apagados. Desligados da tomada. Tipo celular sem carga ou bêbado no final da festa que só sai guinchado. Sei muito bem que ninguém quer morrer para descobrir que paraíso é esse lá em cima. A bíblia não alisa o assunto quando se trata da morte: é dureza. Morreu acabou. Entretanto, ela apresentou a solução: é Jesus Cristo. Basta crer, disse Ele: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (João 11:25). A palavra ressurreição só pode ter um significado: sair da cova.

A Oração do Credo da Igreja Católica Romana diz: “Creio em Deus Pai todo poderoso, criador do céu e da terra, e em Jesus Cristo seu filho único, nosso Senhor, que foi concebido pelo poder do Espírito Santo. Nasceu da virgem Maria. Padeceu sob Pôncio Pilatos. Foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos, RESSUSCITOU ao terceiro dia. Subiu aos céus e está sentado à direita de Deus Pai todo poderoso, donde há de vir e julgar os vivos e os MORTOS. Creio no Espírito Santo. Na santa igreja Católica. Na comunhão dos santos. Na remissão dos pecados. Na RESSURREIÇÃO da carne e na vida eterna, amém”. Veja que o Credo católico fala em ressurreição. Quem está vivo no céu não precisa ressuscitar. Depois da morte não haverá voo direto ao céu para pobre, ainda que santo; nem inferno para o banqueiro, ainda que pecador; ou com escala para o purgatório com o fim de dar uma canseira para os mais ou menos.

Essa temática do purgatório mais se parece com fake news do que justiça divina. Uma história falsa com aparência de verdade com o fim de desinformar. Quem sabe para dar uma engambelada na consciência e aliviar a rigidez do tema. Se jogar o banqueiro e o morador de rua nas chamas sobra a mesma natureza. A essência é igualzinha.

O Apóstolo São Paulo deu a sugestão de fazer o teste do espelho para confirmar essa tese. Para ele a Lei de Deus é um espelho que revela todas as manchas da personalidade. O missionário tinha um sonho: queria ser igual a Cristo. Imitava-o em tudo. Tanto que um dia escreveu: “Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20). O velho homem estava morto.

Mas antes de chegar nesse nível espiritual passou por alguns aperreios. Na Carta que escreveu aos Romanos (7:18-24), fala de uma constatação inquietante. Duas naturezas lutavam dentro dele. A natureza humana com as tendências próprias e a natureza divina enxertada pelo Espírito Santo. Uma vida de verdade, sem falsidade, só poderá existir com a atuação do Espírito de Deus.

Ocorre que o ser humano é uma falsidade. Um bom remédio para as fake news da personalidade humana são os dez mandamentos de Deus. Batata. Infalível. Enquanto a humanidade estiver pensando que é imbatível, apenas a morte assusta. Talvez a história do Rico e de Lázaro acima possa despertar um sentimento de medo numa consciência cauterizada pelo pecado.

O que esperar de uma sociedade que precisa de Lei para falar a verdade? Sociedade perdida; seres humanos mortos em seus pecados. A parábola contada por Jesus pretendia dizer que a leitura da bíblia é o guia que ensinará construir uma personalidade inspirada na natureza divina. Depois da morte, o que sobra do ser humano? O que foi formado sobre o fundamento da Rocha o fogo do inferno jamais destruirá. 'Leia o que Moisés escreveu', disse Jesus. 'Não espere que alguém ressuscite dos mortos para começar a crer na mensagem profética', conclui Jesus na história. Talvez este seja o ponto mais importante da parábola: Leia a bíblia.