O escritor bíblico
diz que Nabucodonosor teve um sonho e se esqueceu do que sonhou. Intrigado com
isso, o rei convocou os assessores de todas as pastas e externou sua inquietação.
O sonho lhe parecia importante. Por isso, determinou que os conselheiros do
império dissessem qual teria sido o sonho e, também, a interpretação. Diante da
impossibilidade absoluta de atender à exigência imperial, todos temeram pela própria
vida. Nabucodonosor baixou decreto de morte para sua assessoria, além de
destruição dos bens móveis e confisco dos imóveis.
O profeta Daniel deveria ser morto, assim como todos os servidores públicos do alto escalão. Felizmente, Deus
revelou o enigmático sonho a Daniel, quando este suplicava por sua vida e de
seus colegas de trabalho. Isso lhe rendeu muito prestígio na corte.
O sonho foi o
seguinte: o rei via uma estátua gigantesca feita de quatro metais
diferentes: a cabeça era de ouro, o peito feito de prata, o quadril de bronze,
as pernas de ferro. Os dedos dos pés eram uma mistura de barro com ferro.
Dito isso, veio logo a interpretação: o mundo teria quatro grandes impérios dali para frente,
dos quais o Império Babilônico seria o primeiro e mais rico. Daí a razão da
cabeça ser de ouro. Ela representava o próprio Nabucodonosor. Depois do
Império Babilônico (605 – 539 a.C.) viriam, ainda, outros três: o Império
Medo-Persa (539 – 331 a.C.); na sequência o Grego (331 – 168 a.C.) e por fim, o
Império Romano (168 a.C. – 476 d.C.).
Empolgado com a
revelação Divina, e cheio de si, o imperador deixou a vaidade subir à cabeça.
Mandou construir em homenagem própria uma estátua gigantesca nos moldes daquela
de seu sonho. Ele desconhecia o limite de seu poder, por isso, baixou um
decreto para que todos adorassem a imagem, sob pena de morte.
Na cidade onde o fato
se desenrolava, moravam vários judeus que decidiram pela desobediência civil. O
governante foi implacável e lançou no fogo os questionadores de sua lei.
O clímax da história aconteceu
no momento quando três foram jogados vivos numa fornalha. Mas os rapazes saíram
ilesos do fogo. O acontecimento sobrenatural lhes rendeu respeito. Contudo,
outros fatos se sucederam a esses para que o arrogante monarca tivesse mais humildade
em seus atos de governo.
O profeta Daniel e
seus três amigos praticavam um estilo de vida primado pela honestidade, decência,
responsabilidade como servidores públicos que eram, tudo sob a inspiração da
Divindade que acreditavam.
A religião que esses rapazes
professavam teve forte influência na vida de Nabucodonosor. Tempos depois o
imperador ficou simpatizante da religião de Daniel e decretou que todos os povos sob seu
domínio deviam obediência ao Deus dos hebreus.
O soberano
Nabucodonosor não aprendera a lição de casa. Errou de novo. Na primeira vez impôs
adoração à imagem de escultura, porque ele se achava deus e a estátua era a
representação de si mesmo. Depois, sua ordem foi para prestar culto ao Deus que
tinha livrado seus assessores do fogo, instituindo uma religião oficial por meio de uma
lei.
Penso que Deus não quer ser adorado pela força ou por obrigação. Mas em liberdade de escolha, sem chantagem, barganha,
promessa ou ameaça. Deus não precisa de defensores ou procuradores para fazer
valer sua vontade. Os princípios divinos estão aí para a escolha de quem quiser
seguir espontaneamente. Nosso Pai Celeste se mostra grandioso ao criar seres
dotados de liberdade de escolha. Ele aponta o caminho e nos adverte das consequências
de nossas decisões. Mesmo que sua criatura o negue, Ele respeita a liberdade de
cada ser.
Quase três milênios
se passaram depois desses tristes episódios. Há quem não acredita que tais
fatos realmente aconteceram. Isso não importa. O significado disso tudo é que
há, no nosso século, homens loucos como aqueles que os livros antigos
registraram. Nabucodonosor cometeu atrocidades para fazer valer seu ponto de
vista a qualquer custo. O Livro Sagrado nos conta que ele escravizava
prisioneiros de guerra; arrancava os olhos dos vencidos em batalha; jogava
pessoas no fogo e destruía cidades sem piedade.
Que os insanos do
presente século não cometam atrocidades em nome de uma consciência coletiva do
bem comum, da maioria, e até mesmo, em nome Deus, qualquer que seja o deus. Religião
e Estado não combinam, por isso, devem andar separados. O certo é que cada um pudesse
professar sua religiosidade sem violar a do outro. Porque a liberdade religiosa
do outro é tão importante quanto a minha. Liberdade religiosa é defender o
direito fundamental do outro de escolher no que crer, mudar sua crença, ou de
não crer, segundo os ditames da própria consciência.