20 julho 2020

Testemunha ou Advogado

Jesus Cristo quando esteve conosco fez muitos milagres, provocou a racionalidade de algumas pessoas, emocionou outras, deixou ensinamentos, esclareceu conceitos sobre justiça, verdade, amor e pediu depois que seus discípulos fossem testemunhas desses milagres e ensinos.

Testemunhar de Cristo é contar do bem que Ele fez na vida da pessoa convertida. É compartilhar a cura, a graça, a misericórdia, o perdão de Deus concedidos no passado, no presente e sobre os planos divinos para o futuro. Testemunhar é, também, uma oportunidade que Deus oferece para as pessoas; sobretudo, um privilégio de poder cooperar com Ele no resgate da ‘ovelha perdida’. Significa dizer que a pessoa conhece Jesus Cristo ‘pessoalmente’, porque passa tempo com Ele.

Uma coisa é dizer o que Jesus fez na vida de alguém. Outra coisa bem diferente e mais impactante é quando o próprio beneficiário do milagre conta sua experiência. Seria bom que não tivéssemos certas histórias para contar. Porém, o milagre de Deus alcança pessoas inimagináveis como o Apóstolo Paulo numa estrada indo para a cidade de Damasco quando tinha a intenção de perseguir os cristãos. Foi um momento sobrenatural. Nem sempre Deus age de maneira dramática. É mais comum ver nas pessoas um senso de reconhecimento da graça do Pai, compreensão de seu imenso amor e gratidão pelo perdão dos pecados.

Na igreja primitiva do tempo dos Apóstolos, cada membro tinha sua própria história para contar. Os irmãos Tiago e João tiveram o temperamento explosivo transformado pelo amor. Pedro, de rude pescador, passou a ser um grande orador e líder da igreja. Tomé contava que de cético adquiriu fé. O perseguidor Paulo de Tarso falava sempre do diálogo que teve com Cristo na estrada de Damasco. Assim, a testemunha só pode falar do que viu, ouviu, conheceu ou experimentou.

Certa vez Jesus foi a uma região chamada de Decápolis às margens do Mar da Galileia e ao descer do barco deu de cara com uma pessoa que se cortava, era agressiva, vivia andando nas madrugadas em cemitérios; estava presa espiritualmente. Era uma figura bem conhecida na cidade. No encontro com Jesus, o moço teve sua vida transformada, da mesma maneira que Paulo. Depois de sua restauração física, emocional e espiritualmente, o rapaz pediu para seguir Jesus Cristo. Contudo, o Mestre disse para ele voltar para casa com o objetivo de testemunhar sobre o milagre em sua vida. Era a pessoa mais indicada a falar do amor libertador do Pai Celeste. O Apóstolo Paulo e esse rapaz da terra dos gerasenos tinham as próprias histórias para contar.

Ellen White escreveu: “Deus poderia ter realizado seu plano de salvar pecadores sem o nosso auxílio; mas, para desenvolvermos caráter semelhante ao de Cristo, precisamos partilhar de sua obra” (O Desejado de todas as nações, página 142, Ed. CPB). Cristo disse à mulher samaritana no poço de Jacó, que testemunhar é fruição de água viva do interior. É um modo de cooperar nos planos de Deus. O testemunho pessoal favorece o crescimento, coloca o pecador em contato com o coração de Deus numa resposta de obediência ao Salvador; além de ser um ato de amor pelo semelhante.

Por essa razão, testemunhar não pode ser o ato de convencer uma pessoa das doutrinas da igreja. Deus não precisa de advogados. O testemunho mais eficaz é uma vida transformada. Para isso, não carece ser uma pessoa com formação acadêmica ou eloquência, mas quem experimentou do amor de Deus na própria vida; sem com isso, desprezar a utilidade daqueles dons se bem empregados.

Diariamente, Deus oferece oportunidades de compartilhar sobre o amor, a misericórdia, a paciência e o perdão recebidos Dele. Com esse mesmo sentimento no coração, é preciso olhar para as pessoas com as lentes do céu, sem importar quem elas são, mas quem poderão ser com Cristo. Nas palavras de Ellen White, “Ninguém caiu tão fundo, nem é tão mau, que não possa encontrar libertação em Cristo” (O Desejado de todas as nações, página 258, CPB).

É função da testemunha levar as pessoas a Cristo. Nos muitos milagres realizados por Jesus foram os amigos e parentes que levaram o necessitado para que fosse curado, tal qual aconteceu na passagem do Evangelho de Lucas 5:19, quando quatro amigos desceram uma maca pelo telhado de uma casa para Jesus curar um paralítico. Isso foi reputado como ato de fé dos amigos do paralítico.

A primeira pessoa com quem André, o discípulo de Cristo, compartilhou as boas-novas foi seu irmão Pedro. O testemunho mais importante que alguém poderá dar é a amizade, carinho, amor, compreensão, respeito por seus parentes, justamente, as pessoas mais próximas com quem convive no dia a dia. Se o relacionamento com o cônjuge, com os filhos ou com os pais era meio azedo, o melhor testemunho em favor de Cristo é desenvolver relacionamentos saudáveis na família. Cada pessoa é uma propaganda viva do Evangelho. Um outdoor ambulante. É em casa que de fato nos revelamos.

Obviamente, é sempre desafiador lidar com pessoas difíceis. O olhar para elas deverá mirar no potencial de cada uma, nas qualidades, no que elas poderão vir a ser, desfocando dos problemas, porque “Deus não nos fez perfeitos e não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos” (Albert Einstein).

(Baseado na Lição da Escola Sabatina do terceiro trimestre de 2020: Fazendo amigos para Deus, a alegria de participar de sua missão, Ed. CPB).